Crítica

Montero: a agradável não-surpresa de Lil Nas X

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Depois do crossover improvável de “Old Town Road” e o terramoto pop de “MONTERO (Call Me By Your Name)”, Lil Nas X preparou a comunidade pop internacional para, basicamente, tudo. Se dois temas haviam sido suficientes para demonstrar que o artista não se prenderia em rótulos ou descrições simplistas, a curiosidade pelo que viria a ser o seu primeiro longa-duração foi crescendo exponencialmente. E é assim que, bem no centro das atenções que, após cerca de 3 anos de gestação, Lil Nas X nos entrega Montero, uma agradável não-surpresa.

Provavelmente fruto do overhype, Montero  acaba por ser, nos seus momentos mais fortes, precisamente o que se esperava e, nos seus momentos mais fracos, desapontante. Felizmente, a maioria das canções são competentes o suficiente para o disco ser robusto e agradável.

“MONTERO (Call Me By Your Name)”, um dos temas definitivos da cultura pop em 2021, abre o disco com um estrondo e é, naturalmente, um dos seus pontos altos. Despida de pretensões ou truques de estúdio, mostra que Lil Nas X está pronto para ir à luta – num universo no qual seria provável que estivesse em desvantagem – com tudo o que tem.

“Industry Baby”, a terceira faixa – também lançada antes do álbum – é o melhor resumo sonoro do disco, apresentando-se como um tema imediato com instrumentais pomposos e o flow “cartoonesco” característico de Lil Nas X. É, no entanto, em “That’s What I Want” que encontramos o primeiro tema capaz de se equiparar à força de “MONTERO”. Pop pouco óbvio, um refrão satisfatório e orelhudo com elevado replay value.

“Tales of Dominica” e “Life After Salem” são outros dois momentos de triunfo absoluto que mostram que a força de Lil Nas X está na sua capacidade de subverter expectativas e nos dar aquilo que queremos, ainda que não o saibamos.

Uma característica impressionante do álbum é a presença de nomes incontornáveis do mundo pop, como o veterano Elton John, e mais recentes revelações, como Doja Cat e Megan Thee Stallion. No entanto, todas estas participações parecem mais manobras comerciais do que propriamente vitórias artísticas. Apesar do potencial imenso da presença destes artistas, o resultado são canções com pouco sabor e que, perante as expectativas, desiludem.

Não obstante, o momento mais brilhante do álbum surge na última faixa, fruto da colaboração entre o rapper e Miley Cyrus. “Am I Dreaming” é uma canção emotiva, poderosa e quase o reverso da moeda de “MONTERO”. Se na primeira faixa Lil Nas X nos mostrava a sua face irreverente e rebelde, a última é mais sóbria. Se o álbum fosse uma festa, “Am I Dreaming” seria o momento em que nos sentamos na cama, ao final da noite, em silêncio, a pensar em como somos felizes. E este abraço musical mostra-nos que os futuros caminhos de Lil Nas X podem ir em qualquer direção. E nós, desnorteados, preparamo-nos para a viagem de qualquer forma.

Montero é, assim, mais um passo em frente na carreira de Lil Nas X. Não sendo um triunfo absoluto nem, de forma alguma, uma derrota, mostra-nos que o rapper/cantor veio para ficar e para continuar a surpreender.

Artigo da autoria de Fernando Costa

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