Cultura

Prémio Nobel da Literatura 2021

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Na passada quinta-feira, dia 7 de outubro, a Academia Sueca anunciou o nome de Abdulrazak Gurnah como o próximo laureado com o Nobel da Literatura. O escritor, um nome desconhecido do público em geral e com uma única obra traduzida em português, admitiu pensar tratar-se de uma partida quando recebeu o telefonema. Mas quem é este autor? E o que caracteriza a sua obra para o mesmo ser galardoado com o prémio máximo da literatura?

Nasceu a 20 de dezembro de 1948, no Sultanato de Zanzibar, uma colónia inglesa. Aos dezoito anos, o autor fugiu da sua terra. Após a Revolução de Zanzibar, procurou refúgio no Reino Unido, lugar onde reside até aos dias de hoje. Estas duas condições, a sua ligação ao continente africano e a sua experiência como refugiado, tornar-se-iam duas realidades indissociáveis e o fio condutor da sua obra. Como tal, o escritor tanzaniano foi premiado pela academia sueca devido à

“sua compreensão intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes”.

De todos os romances de Gurnah, são poucos os que não tem como protagonistas personagens africanas ou refugiados, reflexo da própria vida atribulada do autor. A decisão da academia, por muitos aplaudida como um desvio das suas escolhas historicamente eurocêntricas, mostra que existe literatura para além do velho continente. Assim como os romances de Gurnah mostram-nos que existe uma vida para África antes do contacto com os europeus.

O seu romance mais conhecido, Paradise, de 1994, nomeado para o prémio Brooker Prize, oferece-nos uma visão mais humana dos povos do Congo, numa narrativa, que, à semelhança de “O Coração de Trevas”, de Joseph Conrad, concentra-se na mítica floresta, mas descreve os seus habitantes com mais compaixão. Na obra de Gurnah, enquanto seguimos os passos de Yusuf, que é obrigado a trabalhar para Aziz, um comerciante árabe, e a viajar pela África Central, encontramos vários povos africanos. As suas culturas e costumes, assim como os seus conflitos e problemas, afastam-se da imagem construída pelo mundo ocidental.

Os africanos tornam-se personagens vivas, não meros adereços ou elementos da paisagem.

Embora Paradise seja o seu livro mais aclamado pela crítica, a única obra traduzida em português é o romance “Junto ao Mar”, de 2003. O livro traz-nos a estória de um casal que se apaixona numa cidade que, como o próprio título indica, se encontra junto ao mar, e acompanha o percurso de uma colónia transformada por uma independência tribulada. De novo, vemos nesta obra, a marca distinta do autor: o gosto pelos temas relacionados com o colonialismo e o pós-colonialismo.

Com a decisão de Estocolmo, aquele que era praticamente um escritor anónimo, tornou-se uma vedeta literária do dia para a noite. A sua fama não escapou a várias editoras portuguesas, que rapidamente tentaram entrar em contacto com a editora de Gurnah, de modo a traduzirem a sua obra. Esperemos que sejam bem sucedidas e que o público português tenha a oportunidade e privilégio de conhecer este belíssimo escritor.

 

Artigo da autoria de Roberto Saraiva

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