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Cultura

POP-UP: com quantas caixas se guarda uma vida?

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Se não fosse uma pandemia que nos enclausurou a todos em casa, enfiados e confrontados com as nossas ideias e vontades, talvez este POP-UP não saltasse à luz do dia – talvez não agora. Mas Tomás Seruca Bravo e Nádia Matos – ambos ex-alunos de Teatro (Interpretação) da ESMAE: Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo – em casa, à distância e aborrecidos, começaram a germinar esta pequena bomba. Tentados a criar juntos, muito antes de saber sobre o que queriam criar, começaram assim a sua aventura: com perguntas. O texto (A)tentados, de Martin Crimp, foi o eleito – não só pelo desafio mas também pelo atrevimento, explicam-nos os criadores.

“Este texto tinha alguma coisa de especial. Porque não tem personagens, nem unidade de espaço, nem de ação. Pode ser feito por duas pessoas, por cinco, por dez, por vinte.” 

Por mais confortáveis que estejamos nas cadeiras, somos atirados para um subsolo manhoso e sombrio onde dois investigadores esmiúçam o desaparecimento e consequentemente morte de uma jovem: Annie. Cada caixa que abrem é o mergulhar numa pista diferente, cada prova que colocam em hipótese é o aparecer de novos cenários, pessoas, conversas e banalidades que talvez façam prever o desfecho trágico daquela vida. Talvez nada daquilo tenha acontecido, efetivamente. Talvez todo este espetáculo seja só um par de investigadores a dançar com a sua linha de raciocínio, coreografando os passos daquela jovem. Ou talvez tudo tenha sido tão real e macabro como os episódios contam.

“Decidimos que a base seriam dois investigadores porque também nós [criadores], quando estávamos a ler o texto, nos sentíamos como dois investigadores à procura de juntar os factos sobre o que aconteceu a esta rapariga”

O puzzle vai-se juntando e, sem certezas, agarramo-nos à âncora que as perguntas são muito mais importantes do que as respostas. Qual é o preço dos ideias? O que representa a autoridade? Qual o verdadeiro significado de ajuda? O que é uma guerra? O que é estar sozinha? Onde nos sentimos em casa? Como é que se ri por entre lágrimas? Com respostas múltiplas a tudo isto, POP-UP é perigoso como a publicidade e denso como o mundo real, mas, acima de tudo, importante. Porque nos tenta (ou obriga) a imaginar – até cenários que não conhecemos e não queremos conhecer. Mas o medo tem de ser combatido.

“Todos os temas que nós abordamos aqui estão de alguma forma relacionados connosco, com o nosso país e com as nossas pessoas. Eles estão aqui por alguma razão.”

O projeto está a ser apoiado pela DGArtes ainda que, muito antes de saber se existiria algum apoio, a equipa tenha prometido que ele seria levado avante – porque a vontade de voltar ao teatro e explorar o que é difícil gritava mais alto que o dinheiro. Todo modo, o financiamento permitiu uma “liberdade criativa mais folgada” e, principalmente, “trabalhar com condições”, não se agarrando só ao “amor à camisola”. POP-UP é, como qualquer espetáculo, fruto de um trabalho de equipa insano que esta equipa faz questão de vincar. Altamente frenéticos, estreiam no Teatro Helena Sá e Costa (o palco que viu a equipa nascer e crescer artisticamente) já este sábado e estão “muito, muito felizes”. No fim, algures nos aplausos, não saberemos com quantas caixas se guarda uma vida, mas aprendemos que muitas não chegam. E ainda bem.

Artigo da autoria de Inês Sincero

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