Cultura
Dante: o Inferno apresentado por Lince Rebelo
Mesmo que não nos apercebamos, a noção de inferno que existe no nosso subconsciente parte, indireta ou diretamente, da descrição de Dante Alighieri. Repensá-lo de forma subversiva é um exercício de desconstrução em várias dimensões. Com um admitido interesse pela capacidade subversiva da ilustração, Lince Rebelo pensou um inferno onde os condenados são adorados, o sexo é um prazer sem pudores, o sistema binário é irrelevante e as bruxas voam livremente. Todas as identidades a quem o céu normativo fechou as portas são celebradas neste inferno, aqui a diversidade sexual e as diferentes identidades de género são divinas. O livro conta com textos de Rui Resende e design de Catarina Neves.
“existir enquanto uma pessoa LGBTQI+ foi e continua a ser um ato de resistência, quer essa resistência seja visível aos olhos das outras pessoas ou não”
Antes de construir este “pesadelo” desenvolveu alguns projetos. Em 2019 surgiu bem e mal amado, no qual procurou narrativas LGBTQI+ escondidas nos fados interpretados por Amália Rodrigues. No passado 25 de abril criou uma fanzine com várias histórias da comunidade LGBTQI+ em Portugal. Deu-lhe o nome Resistência porque “existir enquanto uma pessoa LGBTQI+ foi e continua a ser um ato de resistência, quer essa resistência seja visível aos olhos das outras pessoas ou não”, explica na sua página de Instagram.
Mais recentemente colaborou com a revista Gerador, enquanto autor da obra gráfica Better in My Memory, descrita como uma “romantização e um exagero da memória”. “Parte do desejo de alterar a forma como as coisas realmente aconteceram para uma versão mais desejável dos acontecimentos. É uma mentira narrativa e visual, um escapismo que reescreve a memória, mas que, em parte, é verdade.”
É licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e trabalha como ilustrador freelancer e tatuador no estúdio Círculo.
Artigo da autoria da Marta Sofia Ribeiro