Cultura
A (nova) reinvenção de The Weeknd
Abel Tesfaye pode não ser um nome sonante, mas o artista canadiense soube desde cedo como se fazer notar. The Weeknd é seguramente um dos nomes incontornáveis do panorama musical atual, contando com um confortável número de êxitos/prémios e um incontável número de fãs.
Por muitos considerado o mestre da reinvenção, The Weeknd faz continuamente jus a esse título. Na sua primeira mixtape – House of Balloons – abraçou um estilo já próprio de R&B com raízes no underground. Com o seu crescimento, foi incorporando sonoridades mais Pop, Funk, Disco e até uns toques de Techno mais comercial. Esta evolução veio acompanhada da criação de personas para cada álbum, dando força aos seus conceitos únicos.
Para o seu mais recente disco – Dawn FM – The Weeknd criou uma personagem completamente oposta à do seu álbum anterior – After Hours. Se antes nos presenteou com um homem maníaco e frenético, caracterizado pela cara ensanguentada, agora mostrou-nos um homem mais velho e maduro. Alvo de uma extraordinária caracterização, esta evolução da persona assinala simbolicamente a evolução musical.
Dawn FM foi lançado no dia 7 de janeiro e é composto por dezasseis faixas. Todas as músicas formam um todo coeso, talvez o conjunto mais harmonioso já apresentado por Abel. É um álbum repleto de batidas panorâmicas, sintetizadores e uma sonoridade do Pop elétrico dos anos 80. As letras centram-se em torno da temática mais cantada do mundo, o amor, atravessando todo um espectro de posições em relação a este sentimento – desde “Best Friends”, passando por “Don’t Break My Heart” e terminando em “I Heard You’re Married”.
“Take My Breath” é o single de estreia e reflete na perfeição o groove do álbum e o seu poder de nos remeter para uma sensação que muitos de nós não puderam vivenciar – dançar até de manhã numa discoteca em 1980.
A singularidade deste álbum assenta também nas suas colaborações, sendo de especial destaque a faixa de quase três minutos narrada pelo ator Jim Carrey: “Phantom Regret by Jim”. Esta espécie de música narrada, que se inicia associando o nome do álbum a uma rádio, atua como um apelo à autorreflexão e à libertação das preocupações para que se possa disfrutar em pleno das músicas. Outras parcerias dão corpo ao disco, como Lil Wayne em “I Heard Your Married” e Tyler, The Creator em “Here We Go… Again”.
Pouco mais de um mês após o seu lançamento, este novo universo sónico já está a bater recordes. Atualmente, é o disco com a presença no número 1 mais longa – trinta e cinco dias – nas tabelas quer da Apple Music Worldwide, quer da European Albums.
Dawn FM veio, mais uma vez, reforçar o talento e a versatilidade de The Weeknd e confirmá-lo para os mais céticos. Já num patamar de topo, o músico mostrou que não receia transformar-se e acentuou a sua capacidade criativa de evolução sem medo das consequências. Relembrando as entusiásticas batidas dos anos 80, Dawn FM consegue prender o público e deixá-lo a sonhar com o próximo amanhecer de The Weeknd.
Artigo escrito por Amália Cunha