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Mac Miller: um legado eterno

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Malcolm James McCormick, mais conhecido pelo nome artístico Mac Miller, era um rapper, cantor e produtor norte-americano, nascido em Pittsburgh. Faleceu em 2018 com apenas 26 anos de idade devido a uma overdose acidental. Mac era um nome muito querido não só no mundo do hip-hop, mas em todo o mundo artístico, devido não só à sua personalidade calorosa e amigável mas também ao seu enorme amor e dedicação para com a música.

O vício em drogas desde muito jovem e os problemas com a saúde mental sempre foram adversidades que Mac nunca escondeu e abordou recorrentemente nas suas músicas. No entanto, apesar de todos estes “demónios”, basta assistir a apenas dois minutos de uma entrevista ou vídeo do artista para se ficar completamente cativado pela sua energia acolhedora e apaixonada.

Things fall apart, things come together. Everything is happening exactly as it’s supposed to. Hold on and be strong.

Uma das experiências mais fantásticas que se pode ter ao ouvir a arte de Mac Miller é observar o seu crescimento e amadurecimento como artista e indivíduo ao longo dos álbuns. Malcolm nasceu praticamente a fazer música. Desde os 6 anos aprendeu a tocar diversos instrumentos e aos 15, ainda sob o nome artístico Easy Mac, lançava a sua primeira mixtape, But My Mackin’ Ain’t Easy. Em 2010, já se tinha estabelecido como Mac Miller e assinado um contrato com a editora Rostrum Records. Lançou então a mixtape K.I.D.S, projeto que fez com que se começasse a tornar um nome mais conhecido no mundo do hip-hop. Apesar de estar longe de ser um projeto perfeito, quer a nível lírico, quer a nível de produção, K.I.D.S, capta na perfeição a essência de um miúdo de 19 anos que só quer viver a vida ao máximo.

Best Day Ever, mixtape lançada no ano seguinte, incluía a música Donald Trump, que se tornou na primeira música de Mac a estar no Billboard Hot 100. Ainda em 2011, lançaria o seu primeiro álbum de estúdio, Blue Slide Park, o primeiro álbum de estreia a ocupar a 1ª posição do Billboard 200 desde 1995. Todavia, apesar do relativo sucesso, este álbum viria a receber algumas apreciações bastante negativas, com muitos críticos a dizerem que a música de Mac era aborrecida e superficial. Estas críticas potenciaram o amadurecimento, tanto pessoal como musical:  Mac decidiu então abandonar um pouco o estilo frat rap que o tinha acompanhado durante toda a (curta) carreira e começou a explorar outros estilos de música e a abordar temas mais sérios. Estas mudanças começaram a verificar-se na mixtape que se seguiu, Macadelic, lançada em 2012. Segundo o próprio, decidiu “deixar de pensar no tipo de música que devia fazer e apenas começar a dizer o que realmente queria dizer”.

Com isto, chegou 2013, o maior ano do artista até ao momento. No início do ano, Mac deu um passo enorme e fundou a sua própria editora musical, REMember Music. Em março, participou no lead single do álbum de estreia de Ariana Grande – Yours Truly. A música – The Way –  tornou-se um hit gigantesco e deu a conhecer a imensas pessoas o trabalho de Mac Miller. Em junho, lançou o seu segundo álbum de estúdio, Watching Movies with the Sound Off, o seu projeto mais pessoal, ousado e de maior qualidade até à data. O tom mais sombrio e a perda da inocência e ingenuidade que tinham estado sempre presentes em Mac distanciam este álbum dos trabalhos anteriores. Esta mudança de tom também reflete perfeitamente a degradação do estado mental do artista nesta altura da sua vida.

Quase um ano depois chega-nos provavelmente o projeto mais importante da sua carreira, Faces. Esta aclamada obra-prima de 24 faixas foi produzida quase inteiramente por Mac de forma destemida, usando um tom mais psicadélico e focado no jazz, inédito na sua discografia. Esta revolução instrumental associada a uma lírica de elevadíssima qualidade com uma sinceridade que chega a ser dolorosa, elevaram Mac a um patamar  mais sério no mundo artístico.

Em GO:OD AM (2015), Mac aparece rejuvenescido. Após 2 projetos mais pesados e deprimentes, Mac aparece com uma nova energia, notável desde logo nos instrumentais. O projeto voltou a ser muito bem recebido quer pelos críticos quer pelos fãs. Em 2016, Mac Miller transbordava amor e positividade e decidiu então aventurar-se no seu projeto mais surpreendente, The Divine Feminine. Este álbum é composto unicamente por músicas de amor e é uma autêntica ode à beleza associada a este sentimento e à “energia feminina do mundo”.

Depois disto, em 2017, Mac teve o seu primeiro ano desde o início da carreira sem lançar algum projeto. No entanto, nos anos seguintes viríamos a perceber o porquê desta ausência. Chega 2018 e com ele uma parte do seu magnum opus. No dia 3 de agosto, pouco mais de 1 mês antes da sua trágica morte, é lançado Swimming, o culminar de toda a evolução do artista até ao momento. Saiu pouco após o término da relação do rapper com a cantora Ariana Grande e esse é um dos temas abordados no álbum. Com a honestidade a que já nos tinha habituado, mas sem nunca alimentar polémicas ou manchar o nome da artista, Mac relata como estava a lidar com a situação. No entanto, Swimming é muito mais que um álbum sobre o fim de uma relação. É uma carta de Mac para Malcolm, onde o artista reconhece e admite os seus defeitos e a necessidade de fazer melhor. Tudo isto conjugado com uma lírica brilhante e uma produção musical deslumbrante resulta numa autêntica obra-prima.

Infelizmente,foi o último projeto lançado pelo artista em vida. Porém, em janeiro de 2020, a sua família anunciou que se tinha juntado a Jon Brion para trazer Circles à vida, o álbum complementar de Swimming, culminando na concretização da ideia original Swimming in Circles. O álbum já se encontrava numa fase muito avançada de produção quando o artista morreu. Esta foi a única razão que fez a sua família dar a luz verde para a finalização e lançamento do álbum, uma vez que o objetivo nunca foi tirar proveito, mas sim dar um sentimento de conclusão à ideia na qual Mac tinha trabalhado tão arduamente.

E Circles fez mesmo isso. O álbum parece uma mensagem de Mac diretamente do paraíso a dizer que vai ficar tudo bem. Um conjunto de músicas de tal modo angelicais que as tornam impossíveis de ouvir sem largar pelo menos uma lágrima. Uma conclusão perfeita para uma carreira que, lamentavelmente, acabou por ser demasiado curta.

A ética de trabalho de Mac era uma das suas características mais impressionantes e foi um dos motivos cruciais para a evolução tremenda que demonstrou ao longo da sua discografia. Isto fez com que a sua curta carreira, tenha, ainda assim, uma extensão tão admirável. Para além dos 6 álbuns de estúdio e inúmeras mixtapes que lançou sob o nome Mac Miller, lançou ainda diversos projetos sob a sua grande quantidade de pseudónimos (Larry Fisherman, Delusional Thomas, Larry Lovestein, etc).

Nada representa melhor o impacto que Mac ainda tem nos seus fãs nos dias de hoje como os números que a sua mixtape Faces alcançou quando foi finalmente colocada nas plataformas digitais em outubro de 2021. O projeto, lançado quase uma década antes, bateu o recorde de maior número de vendas de um disco vinil de hip-hop/R&B numa semana.

A música de Mac ainda tem um impacto enorme na vida dos seus fãs e estes ainda nutrem um carinho enorme pelo artista, demonstrando-o regularmente. Milhares de fãs deslocam-se todos os anos, no dia da sua morte, à terra natal do artista para uma emotiva celebração da sua vida.

Com um final shakespeariano, é devastadora a incerteza sobre a carreira daquele que se estava a tornar num dos maiores nomes do mundo da música. Mac Miller era daquelas pessoas que são boas demais para este mundo. No entanto, “uma pessoa só morre realmente quando a última pessoa que a ama também morre”, logo, é seguro dizer que Mac Miller e o seu legado ainda vão viver por muitos e longos anos.

Artigo escrito por Afonso Leite

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