Crítica
JUP BAÚ: O regresso ao universo de “Kid Krow” de Conan Gray
Lançado no dia 20 de março de 2020, “Kid Krow” é o álbum de estreia de Conan Gray. O disco é marcado pela sonoridade já característica do artista norte-americano, apresentada anteriormente no seu EP “Sunset Season” de 2018. Este projeto acaba por ser uma continuação daquilo que é o universo de Conan Gray. O álbum, quase autobiográfico, reflete grande parte da infância e vida do artista, com a abordagem de temas como a solidão, os romances trágicos e a difícil transição da adolescência para a vida adulta.
“All these kids have got affluenza/Going wrecking their daddy’s Benza/Crystal liquor cups and designer drugs”
O álbum abre com o tema “Comfort Crowd”, que se destaca pela sonoridade calma que se vai repetindo noutras faixas do projeto. Ao longo da canção, Conan chega à conclusão que se sente sozinho e acredita que uma companhia pode ser a solução para os seus problemas. “Wish You Were Sober”, a segunda canção do álbum, apresenta uma composição e batida interessantes apesar de ser a música mais genérica do projeto. É a primeira referência que o artista faz a relacionamentos que não resultaram, tema que se vai repetindo ao longo do álbum (“Kiss me in the seat of your Rover/Real sweet, but I wish you were sober”).
Com a energética “Maniac” inspirada em pessoas que espalham rumores, Conan Gray atinge o melhor que a música pop tem para oferecer. Com um refrão memorável e uma batida viciante, o terceiro single do álbum acaba por ser um dos maiores destaques do projeto, tornando-se na imagem de marca do artista.
Os dois interlúdios são interessantes e ajudam a construir a narrativa que Conan pretende contar com este álbum, com especial destaque para “(Can We Be Friends)”. Apesar de se focar no sentimento da amizade, Gray reflete alguns dos seus problemas e necessidades nesta canção.
“The Cut That Always Bleeds” é a grande surpresa deste projeto. Apresenta uma produção calma que vai progressivamente aumentando de intensidade até chegar à bridge, onde se dá o clímax da canção. Com uma melodia bem construída e backing vocals que fazem toda a diferença, Conan brilha como compositor e como vocalista. A temática central abordada é o amor não correspondido, mas, indiretamente, o artista vai revelando o conflito interno que está a viver. Uma forte concorrente a melhor faixa de “Kid Krow”.
“To say you loved me all along/And kissed the bruises ‘til they’re gone/Bittersweet, ‘cause I can’t breathe/Inside your arms”
Em “Fight or Flight”, a guitarra é a grande protagonista. Apesar de continuar a refletir as letras inteligentes de Conan Gray, este tema é, a nível melódico, o menos memorável do álbum. “Heather“ é o grande hit deste projeto e o maior sucesso da carreira de Conan. Sendo uma das canções mais sinceras do álbum, Conan Gray mostra que não são precisos grandes instrumentais ou produções excessivas para fazer uma boa canção. Mais uma vez, o amor não correspondido volta a ser o grande tema, apesar de, aos poucos, percebermos que o conflito interno que o artista está a viver volta a ser um tema de destaque.
Depois de “Little League“, onde a principal temática é a nostalgia da infância e a transição para a vida adulta, o projeto indie pop termina com a balada “The Story”, e não poderia terminar de melhor forma. Este tema é uma lufada de ar fresco depois de uma montanha russa de emoções. Esta é a conclusão perfeita para o projeto. O artista volta a surpreender como compositor e ouvir esta faixa é uma experiência sonora única. “The Story” marca o fim de “Kid Krow”, mas mostra que a promissora carreira de Conan Gray está apenas a começar.
“and I’m afraid that’s just the way the world works/But I think that it could work for you and me/Just wait and see/It’s not the end of the story”
“Kid Krow” é um álbum bastante coeso a nível de temáticas e de sonoridade, muito completo e com uma composição extraordinária para um artista tão jovem, no início da sua carreira. Conan Gray é sem dúvida uma das revelações dos últimos anos e um artista que promete revolucionar o panorama internacional da indústria musical.
Artigo escrito por João Santos Silva