Cultura

TRIPLO: Dança transfronteiriça

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O festival Regards Croisés é um programa de colaboração coreográfica, criado para dinamizar a partilha de projetos de dança contemporânea provenientes de três áreas europeias distintas, quer a nível geográfico, quer a nível cultural: Portugal, Espanha e França. Originou-se a partir do Centro Coreográfico Malandain Ballet Biarritz no ano de 2012, mas já há três anos que se realiza em Vila Nova de Gaia.

Segundo o site da Câmara Municipal de Gaia, a companhia Kale serviu ao público “um espetáculo em formato triplo sob a visão de três coreógrafos de diferentes estéticas: Daniela Cruz (pt), criadora em expansão no âmbito da dança contemporânea em Portugal, Hamid Ben Mahi (fr) com uma nova visão francesa sobre as danças urbanas e a transdisciplinaridade artística de Igor Calonge (es)”.

Este ano, “TRIPLO [PT. FR. ES.]” foi o espetáculo de abertura do festival e consistiu na junção de três apresentações dançadas por um grupo de jovens bailarinos da companhia portuguesa Kale. A primeira – “Colombina”- da coreógrafa Daniela Cruz, trata-se de um dueto que nos capta através do jogo dinâmico de luz e penumbra, que evidencia limpidamente os corpos das bailarinas enquanto se movem contínua e agilmente pelo palco, e do próprio jogo entre as duas. De início, aparentemente restringidas pelas pontas clássicas e pelas próprias linhas do movimento, as bailarinas acabam por expressar um à vontade através de um vocabulário claramente contemporâneo, numa coreografia por vezes simétrica, e por outras dispersa e livre. 

Fonte: @kalecompanhia (instagram)

Já em “Fragments”, a segunda peça, conta-se com a presença ativa de 5 bailarinos em palco. Com uma energia magnética e inconstante, os intérpretes levam-nos numa pequena viagem de diferentes emoções, desde o riso frenético à evidente desaprovação com que encaram o público. Aqui, o coreógrafo Hamid Ben Mahi, consegue alcançar aquilo que é a construção e desconstrução da harmonia entre o grupo e entre as partes da coreografia, por meio de sucessivas travessias, confrontos, quedas e saltos e de um tipo de movimento absolutamente elástico. Ao som de uma estimulante música ao vivo, a plateia é levada, assim, ao encontro de um conjunto de corpos cheios de vida, que nos transmitem um leque de vivências através da sua expressividade vincada.

O culminar do “TRIPLO” é , então, “Gaia”, da autoria de Igor Calonge. Esta peça tem como inspiração a mitologia grega, que assenta na formação de um Cosmos a partir do Caos inicial, e em que Gaia (ou Terra) é a divindade primordial, nascida do vazio, e que dá origem a tudo o resto. Esta cosmogonia materializa-se na coreografia, através de um início totalmente escuro, em que de uma forma lenta e misteriosa se vai fazendo passar uma pedra de bailarino em bailarino, seguido de um gradual crescendo no movimento que se torna intenso, veloz e visualmente ascendente. No final, quando parece já ter terminado, voltam ao palco os 7 bailarinos com um movimento pausado como o inicial, podendo ser interpretado como um regresso ao vazio. 

Fonte: @kalecompanhia (instagram)

O “TRIPLO” foi, deste modo, nem mais nem menos do que a corporificação daquilo que é o espírito e intenção deste festival, tendo juntado artistas das três nacionalidades e permitindo que estes expressem a sua diversidade artística e cultural na dança. Dando a conhecer o excecional trabalho dos coreógrafos, este espetáculo conseguiu conectá-los à comunidade de Gaia, fomentando a atividade artística, em particular da dança contemporânea, nesta cidade.

Artigo escrito por Luísa Garcia

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