Cultura

FAUP Fest: a música (e não só) retorna aos jardins da faculdade de arquitetura

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Maio de 2022, Sexta-feira, dia 13. Por norma, neste dia, o destino das peregrinações é um sítio uns bons quilómetros abaixo do Porto. Mas, desta vez, para centenas de melómanos, a viagem teve como fim os jardins da faculdade branca da academia portuense. A Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto acolheu assim a 6.ª edição do FAUP Fest num dia que, apesar dos azares que poderiam ser trazidos, trouxe as melhores condições atmosféricas possíveis para se  apreciar música ao vivo e ao ar livre: céu limpo e calor (quanto bastasse).

Bancas dos artistas na FAUP Fest

A tarde começou com a abertura das bancas de artes nas quais vários artistas puderam expor e vender desde stickers, prints e totebags até frases motivacionais e cinzeiros em cerâmica. O corredor ao ar livre entre os edifícios da FAUP encheu-se de mesas de madeira preenchidíssimas de trabalhos coloridos oriundos de mais de 20 artistas. Nos destaques da página de Instagram do FAUP Fest é possível encontrar ligações para as obras de todos os artistas e coletivos de artistas que expuseram a sua arte nestas bancas: Instagram do FAUP Fest.

Vitória Vermelho no FAUP Fest
Imagem: Inês Aires

Com tudo pronto, por volta das 17:00, devido a alguns atrasos, começou a atuação de Vitória Vermelho. A ex-concorrente do The Voice e conhecedora dos cantos da casa da FAUP não precisou de tempo para aquecer o vozeirão e mostrou-se logo pronta para quebrar o gelo com os originais e versões que se estenderam pelos territórios sonoros do soul e do blues. Com nomes na setlist como Tim Maia (com “Ela Partiu”) e ainda Caetano Veloso (com “Mora na Filosofia”), o trio de baterista, baixista e guitarrista/vocalista não podia ter estado melhor. Uma das músicas que se ouviu no palco Carlos Ramos foi esta “Breathless” que pode ser também ouvida no canal de Youtube da própria Vitória Vermelho.

 

Depois de uma paragem rápida para verificar quem viria a seguir preencher os palcos e, claro, para uma rápida hidratação, seguiu-se a atuação de BIÉ. Infelizmente, para quem esteve até ao fim a assistir ao concerto da Vitória Vermelho no palco Carlos Ramos não pôde ser brindado com as sonoridades indie e até mesmo, em alguns momentos, blues das músicas deste cantautor no palco Árvore. BIÉ recentemente lançou o single “Linguagem da Respiração”, cujo videoclip fica aqui em baixo.

 

FAUP Fest Aníbal Zola Imagem: Inês Aires

Novamente no palco Carlos Ramos foi possível ver o trio maravilha de looper, contrabaixo e voz de Aníbal Zola. Ainda com o sol a ajudar na iluminação, o público pode apreciar uma atuação surpreendente do autor de músicas como “Dona Isabel” e “Quem tem boca” a usar ao máximo o contrabaixo, a voz e por algumas vezes as palmas e percussão que é possível de fazer com o corpo.

FAUP Fest André Júlio Turquesa
Imagem: Inês Aires

De palco para palco ia andando o público, seguindo as indicações do cartaz, e desta vez a peregrinação foi outra vez do palco Carlos Ramos para o palco Árvore. Continuando no tema dos loopers e das One-man Bands, desta vez foi André Júlio Turquesa a mostrar a sua mestria. Num registo mais indie/folk e com o público sentando na relva pronto a apreciar um músico e a sua guitarra, o ambiente sonoro trazido por Orgônio, álbum que músicas como “Release the Fire” e “Super-Herói” que se fizeram ouvir nos jardins da FAUP, foi a banda sonora perfeita para o sol que já se começava a pôr.

 

FAUP Fest Vasco Completo
Imagem: Inês Aires

Voltando ao palco Carlos Ramos com o seu jardim pequeno rodeado de arbustos, o público pôde apreciar mais um projeto a solo. Desta vez, a guitarra elétrica e música eletrónica instrumental de Vasco Completo. Entre bastantes originais ainda houve tempo para ouvir uma versão de “Vontade” de ProfJam.

FAUP Fest El Señor
Imagem: Inês Aires

O palco Toca foi finalmente aberto por Claiana, o projeto do cabo-verdiano Gui Lee. No entanto, esta abertura foi quase simultânea à atuação de El Señor no palco Árvore pelo que, quem já estava por ali perto, por ali ficou. El Señor trouxe de Fafe o seu punk super enérgico à FAUP, que fez toda a gente “abanar o capacete”, ou, pelo menos, bater o pé. Este trio maravilha teve ainda oportunidade de provocar uma onda contagiante que resultou num pequeno mosh à frente do palco, o que seria um presságio do que estaria para vir mais para a noite, com os Fugly.

FAUP Fest Muay
Imagem: Inês Aires

Depois de uma “punkada” como a dos El Señor abriu-se o apetite para mais sonoridades do género. Em contraste com a sonoridade trap de Maudito, que atuou no palco Carlos Ramos, quase simultaneamente subiram ao palco os Muay no palco Toca. Com a ajuda de uma parafernália de pedais de efeitos e uma boa dose de sintetizadores, o duo instrumental de Penafiel trouxe ao FAUP Fest a sua mistura de géneros, juntando elementos do rock progressivo, do post-rock e do noise por vezes numa só música. Com compassos fora do comum e experimentalismo ao rubro, os Muay aproveitaram este início de noite para apresentar várias músicas do mais recente álbum “S E M F I M”, que pode ser ouvido (e adquirido) na página do Bandcamp do projeto.

Depois de tudo rearranjado no palco Toca, foi a vez de João Não & Lil Noon usufruírem deste espaço pequeno mas cheio de contacto com o público. Público este que ainda se atreveu a juntar-se em coro em algumas das músicas mais conhecidas. Quase ao mesmo tempo, no palco Árvore, também atuou o projeto Hisou, conhecido pelo seu som lo-fi, punk e noise.

FAUP Fest Fugly
Imagem: Inês Aires

Entre filas para jantar um cachorro, uma bifana ou um hambúrguer ou, para quem já estava na sobremesa, um gelado, havia gostos para todas as bocas nas roulouttes de alimentação que também fizeram parte do FAUP Fest, pois quem assiste a tantas horas de concertos não se alimenta de ar e vento. Depois do eventual reabastecimento vieram as atuações mais esperadas, os nomes escritos a letras maiores no cartaz do FAUP Fest.

A noite no palco Carlos Ramos foi inaugurada pelos portuenses Fugly. Começando logo a todo o gás com o single “Stay In Bed”, que já faz parte do novo álbum Dandruff, desde o início do concerto até ao fim houve sempre mosh mesmo à frente do palco. A setlist da noite ainda teve espaço para músicas que de certeza ficaram em muitos dos ouvidos do público muito depois do concerto acabar como “Take You Home Tonight” e “Mom”, e ainda umas passagens entre músicas com bastantes efeitos e feedback (propositado).

FAUP Fest First Breath After Coma
Imagem: Inês Aires

Ainda antes de acabar a atuação dos Fugly, no lado oposto dos jardins da FAUP, no palco Toca, começou a atuação dos Baleia Baleia Baleia. Uma pena para quem não queria perder nenhum destes dois projetos que fazem parte da editora portuense Saliva Diva. Perdido então este concerto para os redatores do JUP que estiveram presentes na FAUP Fest, decidimos apostar os cartuchos finais na atuação do quinteto de post-rock de Leiria: First Breath After Coma. E estes cartuchos acertaram em cheio. Desde os crescendos lentos e intensos até aos sintetizadores e guitarras que juntos provocaram uma ambiente sonoro atmosférico, o projeto leiriense apresentou músicas do álbum mais recente “Nu”, passando também pelas bandas sonoras de álbuns já mais conhecidos do público como “Drifter” e o do álbum de estreia The Misadventures of Anthony Knivet. No fim da “Salty Eyes” houve ainda tempo para um momento bonito do público, cantando em uníssono os coros que se fizeram ouvir por toda a FAUP.

Depois desta última atuação no palco Árvore, foi a vez do stoner dos 10.000 Russos fechar o palco Carlos Ramos, e por fim, o DJ Set de Arrogance Arrogance fechou o palco Toca.

Desta tarde e noite fica a memória de uma sexta-feira cheia de boa música portuguesa, projetos que estão a emergir, outros que já têm o seu espaço estabelecido dentro da cena musical lusitana e ainda, para quem se aventurou pelas bancas de artes, uma mão cheia de stickers ou prints. Aqui no JUP esperamos ansiosamente pela próxima edição do FAUP Fest. Que venham muitos mais!

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