Cultura
AP Quarteto apresentam novo disco “Nu” no grande auditório da FEUP
Quinta-feira, final de maio, noite quente. Foi este o pano de fundo para o início de mais uma noite de Jazz na FEUP. Desta feita, foi a vez de AP (na guitarra e efeitos sonoros), José Diogo Martins (no piano), Gonçalo Sarmento (no contrabaixo e baixo elétrico) e ainda Gonçalo Ribeiro (na bateria) pisarem o palco do grande auditório da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Com metade dos lugares ocupados, ouviram-se os primeiros acordes da guitarra de AP. Munido com um parafernália de pedais de efeitos e 6 cordas de aço, a combinação dupla entre pés e mãos foi tudo menos previsível do início ao fim do concerto.
Cada nota que se fazia ouvir pela sala do auditório levava os espectadores para dentro do imaginário de AP aquando da composição de “Nu” . Quer viesse da bateria, do baixo elétrico, do contrabaixo, do piano ou da guitarra, cada som que ressoou no auditório durante esta quase hora e meia de espetáculo indiciava uma simbiose entre músico e instrumento e entre os 4 artistas que tomaram o palco como seu.
Ainda houve tempo para ouvir o dueto de piano e guitarra num registo mais livre ao interpretar a faixa “Cubo 2”. Quem teve oportunidade de assistir a esta apresentação do primeiro trabalho deste AP Quarteto ouviu vários momentos melodiosos e ricos harmonicamente, que puderam muito bem satisfazer até os ouvidos mais conservadores, como no caso da faixa “Sim Fonia”. No entanto, o ponto central do reportório foi a experimentação de novos sons, o improviso e os contrastes rítmicos e harmónicos, como se ouve no tema “O Pintor”.
Raramente se vê alguém usar com tanta mestria e com resultados tão vastos os efeitos sonoros de delay, freeze e pitch-shifting como faz AP neste seu primeiro álbum em formato de quarteto. “Nu” pode, a princípio, ser um nome que parece não fazer sentido, dada a associação do improviso e experimentação com a complexidade. No entanto, após uma audição atenta, nota-se que este trabalho pretende demonstrar que também a simplicidade pode ser usada na exploração de novos territórios sonoros.
Apesar de ter sempre em mente o objetivo de encontrar uma frescura e uma imprevisibilidade musical a cada esquina que cruza, esta estreia do AP Quarteto, que é já também o 84.º álbum com o selo Porta-Jazz, pretende cativar os ouvintes com a sua simplicidade melódica.
Depois de um momento musical destes, o público fica sempre à espera de mais. Por isso mesmo, à saída do concerto era possível levar para casa uma cópia física, em CD. Para quem não pôde estar presente e, ainda assim, faz questão de conhecer melhor este novo trabalho de AP, pode sempre encomendar ou apenas fazer o download do álbum digital no Bandcamp do artista.
O álbum tem a aprovação e o carimbo da Associação Porta-Jazz. O programa “Jazz na FEUP” já trouxe ao grande auditório desta instituição académica importantes nomes na cena jazzística portuguesa tais como Paulo Gomes, Miguel Ângelo, Eurico Costa, Marcos Cavaleiro e José Pedro Coelho.
E como uma imagem vale mais que mil palavras, deixamos aqui também os registos fotográficos desta noite bem passada.
Artigo da autoria de Daniel Diogo. Fotografia de Inês Aires.