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Cultura

Os Animais Errantes andam à solta no seu Casulo

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A metamorfose preparou-se e um ato de coragem aconteceu. Da incerteza habitual que cicatriza a vida dos artistas recém-licenciados, brotou o Casulo, um coletivo de seis jovens com vontade de criar uma estrutura sólida de criação coletiva e experimental. Todos são antigos estudantes da ESMAE – Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, e porque nem só de atores se faz o teatro, o grupo junta ainda um cenógrafo, um designer de luz e um designer de som. Clara Spormann, uma das fundadoras, partilha que “o facto de termos formações em áreas tão diferentes, ainda que quase todos tenhamos sido da mesma turma, faz com que consigamos criar um espetáculo a partir do ponto de vista das várias áreas artísticas”.

E só com tantas cabeças pensantes se consegue levantar o atrevimento que é este espetáculo. “Animais Errantes” é o grito do ipiranga do vale tudo e a ode ao teatro de uma juventude que finge tanto e a toda a hora que já confunde a verdade e a mentira, o que é pessoa e o que é personagem. Entre livros e filósofos, perguntas difíceis e histórias de vida, copos cheios e memórias vazias, somos convidados a sentar-nos à mesa com o Tiago, a Alexandra e a Clara (simultaneamente pessoas reais e ficcionadas) e conversar.

E não é que conversamos mesmo? Não é que nos dão um microfone para a mão e nos pedem para, também nós, assim como eles os três, dizermos o que nos vai na alma? E assim, juntos, numa roda que lembra uma mesa redonda de amigos que se conhecem há muitas vidas, dissertamos à vontade sobre amor, família, beleza e liberdade.

É estranho. Nada daquilo parece teatro. Mas é! Achamos que vamos ao teatro para, afundados numa cadeira, ouvir. Mas ali, nervosos que chegue a nossa vez, sentados na pontinha do assento, também falamos.

Pensando melhor, talvez não seja teatro. Mas o que é que isso interessa? Ninguém tem essa definição. É um espetáculo. É uma catarse de vontades, passados e futuros. É um aglomerado de referências, piadas e traumas. Tiago Ribeiro relembra até que “este projeto não tem nenhum apoio. Estamos aqui porque gostamos de estar aqui, a fazer isto, uns com os outros”. E isso foi suficiente para sairem do casulo da incerteza, criarem um coletivo, montarem um altar à juventude e saberem que o futuro lhes reserva muitas aventuras experimentais. “Animais Errantes” é a primeira delas todas e faz qualquer um querer ter vinte e poucos anos outra vez. Por favor.

Artigo da autoria de Inês Sincero

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