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Cultura

“Coral” foi uma “celebração da vida” na Casa da Música

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Foi na Casa da Música que surgiu a ideia do conceito do 10. ° álbum dos “The Gift”. A interpretação de uma obra de John Cage serviu de mote para Coral, que tem ainda outras inspirações, tais como Arvo Pärt e os portugueses Sétima Legião, Fausto, Heróis do Mar, GNR e Madredeus – A portugalidade é uma marca forte e intencional deste álbum. Na REV, app que nasceu na pandemia e que mostra conteúdo exclusivo do grupo, deram a conhecer este disco de vozes em primeira mão àqueles que os seguem e acompanham.

Em palco, Sónia Tavares, Nuno Gonçalves, Miguel Ribeiro e John Gonçalves, o quarteto (en)canta ao longo de quase duas horas, que começa com “Noir”, ainda por trás das cortinas e acaba com “Cancun” num encore efervescente, acompanhados de 20 coristas (os 50 cantores da gravação do disco são de Viena, Áustria) e de um cenário ecuménico, digital (é também um espetáculo visual) e envolvente.

A conversa é uma constante ao longo de todo o espetáculo. Fala-se da origem do disco, da vontade de criar coisas. Da influência da pandemia e do desejo de, mesmo quando já se pensa que tudo se fez, inovar e seguir outras rotas. Da persistência, tão característica dos The Gift (a colaboração de Bernat Vivancos veio após conseguirem alterar a relutância inicial do compositor catalão). De alguns dos vários colaboradores do álbum (Bogdan Raczynski, José Manuel David, Carlos Guerreiro, Rui Vaz, …). As brincadeiras entre Sónia e Nuno, que se conhecem tão bem. O momento, como lhe chamaram,  “Feira de Carcavelos”, em que promovem o livro que acompanha o álbum, por considerarem que a “música pertence às prateleiras das pessoas” e não só ao streaming.

É um álbum que se situa entre o passado e o futuro. O passado e a “tradição”: A colaboração dos Pauliteiros de Miranda e de alguns dos membros dos Gaiteiros de Lisboa e o aspeto sacro de Coral, com o seu imaginário e tons religiosos, assim como a inspiração da música clássica (“Adágio” é a versão de um tema interpretado por Teresa Silva Carvalho, com poema de Ary dos Santos e música de Albinoni). O futuro: O eletrónico, as luzes, as imagens, os sons, que apesar de crus e a várias vozes, soam futuristas, algo que se torna evidente no concerto ao vivo.

Talvez a melhor forma de resumir o espetáculo ao vivo deste Coral será citando os próprios, que dizem que “por detrás da cortina de cada teatro e auditório, um coro que enche o palco, e os The Gift. Uns agarrados às letras, outros agarrados ao laboratório rude da eletrónica. Coral ao vivo é sobretudo uma celebração. Da vida. Do impulso. De estarmos ainda aqui a seguir aquilo que não se vê, o nosso instinto.” E foi exatamente esse o ambiente que se viveu na Casa da Música. Um coro em palco, um grupo experiente e um público fiel (atento e curioso pela forma como os “The Gift” iriam fazer o transfer entre o disco e o palco), mas com o entusiasmo de sempre e a vontade de conhecer mais.

Artigo escrito por Francisca Costa