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Cultura

“Bones and All”: uma viagem pelo amor, ética e violência

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Com o prémio de “Melhor Diretor” no Festival de Cannes deste ano, “Bones and All” é uma das últimas grandes estreias de 2022. A longa, protagonizada por Taylor Russel e Timothée Chalamet, chegou às salas de cinema no início deste mês e é agora distribuída nas plataformas VOD.

Baseado no romance do mesmo nome, a trama toma lugar nos Estados Unidos da América, na década de 80. Após um episódio de canibalismo, Mareen (Taylor Russel) decide fugir mais uma vez de casa e procurar a sua mãe, que nunca chegou a conhecer. Espera conseguir entender o que tem dentro dela e porque sente a necessidade de consumir carne humana, de uma forma cada vez mais descontrolada. É uma roadtrip pela América, onde Mareen percebe que não está sozinha no mundo e existem pessoas que a compreendem e que partilham o mesmo fardo. Enquanto prossegue com a sua busca, um amor floresce entre si e Lee (Timothée Chalamet), um jovem que conheceu pelo caminho e com quem partilha uma estranha ligação. A viagem começa a complicar-se quando percebe que nem toda a sua comunidade pensa e age da mesma forma e Mareen terá de fazer escolhas menos éticas com o passar do tempo.

O elenco é reduzido. A história é bastante simples e curta. Mas é a forma como é contada e, principalmente, mostrada que fazem a nova aposta do realizador italiano brilhar. Os frames, a música, as emoções e as imagens fortes exalam o grande cinema italiano que Guadagnino gosta tanto de incluir nos seus filmes. Deve ser visto num grande ecrã, se possível e o público deve estar pronto para cenas violentas e gráficas. Este é o filme mais brutal da carreira do diretor, embora jogue e equilibre bem os géneros que abraça. É um dos romances mais incomuns e sombrios dos últimos tempos. É uma história violenta, mas profunda e poética. É um coming of age na sua forma mais pura. São personagens que se descobrem, que evoluem e que partilham as suas inseguranças.

Embora esperasse uma abordagem mais negra, o filme consegue equilibrar um bom romance com traços do sinistro. A música utilizada continua a ser um dos pontos mais louváveis, com o uso de guitarras e de acordes que remetem para uma viagem pelas estradas estadunidenses, num dia de verão. A paleta de cores combina com os personagens e com o tom de história. É uma harmonia visual e auditiva que contrasta com a confusão mental e o questionamento ético dos seus protagonistas.

É uma história forte, com um final que não será digerido assim tão facilmente. Apesar de ter passado mais despercebido nas salas de cinema, acredita-se que terá um bom desempenho agora que chegou ao digital. Um bom filme para quem deseja ver um romance fora do padrão.

 

Artigo escrito por João Jesus