Cultura
Lon3r Johny – A Vida Rockstar no Porto
João Freixo para alguns, Lon3r Johny para todos. Independentemente da designação, já ninguém pode negar a existência bem-sucedida do jovem trapper lisboeta. Tendo surgido no Soundcloud em 2017, o salto para a ribalta aconteceu um ano depois quando se juntou à “Think Music”, a editora de Proj Jam (que, atualmente, já não se encontra em atividade). Foi nesse ano também que lançou os temas “Crystal Castle” e “Trapstar”, os seus primeiros com um milhão de visualizações cada.
Com a chegada de sucesso e fãs, aliada à crescente experiência, a confiança de Lon3r foi aumentando, o que se demonstrou nitidamente quer nas suas letras e melodias, quer na sua estética. Em plena pandemia da Covid-19, abril de 2021, o artista lançou o EP “A Nave Vai em Tour”, composto por oito faixas. Este extended play conferiu-lhe notoriedade nacional e chamou à atenção de ainda mais fãs, sendo um marco na sua ainda jovem carreira.
Numa espiral ascendente, Lon3r Johny lançou o EP “Vida Rockstar” em 2022, composto por sete faixas. Músicas desta coletânea como “Porsche Turbo” e “Rockstar Shit” solidificaram a imagem e o conceito do músico – eletricidade, adrenalina, velocidade e perigo. O sucesso deste EP fez com que apresentasse dois concertos em nome próprio, na capital e no Porto. Ambos com convidados especiais, os fãs de João esperavam uma noite memorável.
No Porto, o concerto teve lugar no Hard Club, no passado dia 25 de fevereiro. A sala estava completamente esgotada e a fome dos nortenhos de ver o artista era notória, com a fila a formar-se antes das oito da noite. O dresscode do concerto era all black e os fãs não desapontaram, com a grande maioria a seguir a estética de Lon3r – cabelo slicked back, óculos de sol e muito cabedal.
A primeira parte do concerto foi assegurada por dois DJ’s e um jovem músico. O primeiro a subir ao palco foi Progvid, um verdadeiro aquecimento para quem se seguiu – DJ Fifty. Reconhecido como um dos melhores DJ’s portugueses de hip hop, Fifty pôs toda a plateia a dançar e a aquecer para o tão esperado Lon3r. No entanto, antes da estrela da noite chegar foi ainda tempo de Louis Dvart atuar, uma promessa do trap que não desiludiu a plateia.
O relógio ainda não marcava as 23h quando Lon3r Johny entrou de rompante no palco. Com um boné e os seus tão característicos óculos de sol, assim como os dentes de diamante, o músico iniciou o concerto com “Walk”. O cantor optou por abordar os temas de “A Nave Vai em Tour” logo no início do concerto, deixando os mais recentes, e também algumas surpresas antigas para o fim. Desde a primeira nota que os fãs foram levados ao êxtase, ecoando as letras e envolvendo-se em mosh pits, os quais Lon3r incitava no começo de quase todas as músicas.
Durante todo o concerto, foi nítida a paixão dos portuenses por Lon3r e esse carinho não passou despercebido ao cantor. O trapper referiu-se aos fãs como “meu people” e “meus loucos”, gritando múltiplas vezes “obrigado Porto” e saltando quando o público pedia fogosamente “salta Lon3r olé”. As surpresas aconteceram para os dois lados – Lon3r reconheceu algumas caras da primeira fila, o que levou esses fãs à loucura, ao passo que o músico ficou boquiaberto quando a multidão mostrou saber de cor as letras das músicas mais antigas.
O concerto já ia a meio, com a multidão já emergida nas rimas e batidas da rockstar lisboeta, quando o sistema de som colapsou e desligou-se. As dificuldades técnicas apanharam de surpresa quer o artista, quer a sua equipa. Os fãs não deixaram que o contratempo diminuísse a energia do espetáculo e começaram a cantar em uníssono a música “My Life”. Resolvido o problema, Lon3r continuou com a mesma vivacidade, até que, pouco tempo depois, sucedeu-se o mesmo incidente. Visivelmente incomodado, mas sempre profissional, o músico juntou-se à sua equipa e conseguiram resolver de vez o problema, levando a máxima à letra – the show must go on.
Dizem que o melhor fica sempre para o fim e, no caso deste concerto, não estão errados. Antes da última música, “Porsche Turbo”, Lon3r disse à plateia que queria fazer algo inédito. O trapper chamou ao palco um fã, que muitos chegaram a confundir com Lon3r nas filas de espera, para cantar com ele. A canção ia a meio quando Lon3r atirou o fã para a multidão, num momento verdadeiramente à filme de crowd surfing. Logo em seguida, o cantor atirou o microfone para a plateia e saiu antes sequer da música terminar. O que muitos consideraram um protesto contra as falhas no sistema de som, outros apenas o rotularam como parte do espetáculo e do fator surpresa.
A promessa era de uma noite memorável e, após uma hora e meia de concerto, os fãs não saíram desapontados. Tendo cantado todos os seus hits, sempre com a energia eletrizante que agora o caracteriza, Lon3r deixou a sua marca no Norte. O pai do músico, que se encontrava na plateia e esteve sempre receptivo a conversar com os fãs, repetiu várias vezes – “o palco é demasiado pequeno para ele”. Talvez o progenitor de João Freixo não estivesse errado – a este ritmo, o efeito rockstar de Lon3r Johny só tem motivos para se alastrar por mais e maiores palcos nacionais.
Artigo escrito por Amália Cunha