Cultura
“Shrek: O Musical”: Bué, Bué Longe da monotonia
O musical da história de “Shrek” chegou, finalmente, ao Porto. Depois da sua estreia no Parque Mayer, em janeiro, a história cantada do ogre verde estreou-se no Coliseu do Porto, no Dia do Pai (19/03). O espetáculo segue em digressão, chegando ao Casino Estoril a 7 de maio e a Coimbra a 24 de junho, sendo esta a última sessão conhecida.
Quando se fala do Shrek, surge sempre um sorriso de nostalgia e uma compreensão coletiva de que o clássico da Dreamworks é das melhores animações já feitas. O amor pelo ogre rabugento, a princesa incomum e um burro carismático levou à extensão da franquia, que conta com quatro filmes, dois spin-offs (a sequela do Gato das Botas foi das animações mais vistas do ano passado) e uma série animada. E, em 2008, a Broadway decide agarrar no fenómeno e transformar esta aventura para um grande espetáculo musical. “Shrek: O Musical” é a versão portuguesa deste mesmo musical e, assim que foi anunciada em Portugal, atraiu vários olhares curiosos.
Distribuído pela Yellow Star Company, “Shrek: O Musical” possui a mesma trama que o filme original de 2001. Shrek é um ogre, que vive isolado no seu pântano e vê a sua tranquilidade interrompida com a chegada de várias criaturas dos contos de fadas. Consta-se que Lord Farquaad expulsou as criaturas místicas de Duloc e procura uma princesa, para se conseguir tornar rei. Shrek decide averiguar a situação, de forma a recuperar o seu pântano mas vê-se obrigado a resgatar a princesa Fiona, como moeda de troca. Acompanhado por um burro que fala, o nosso ogre favorito inicia a sua demanda, questionando a sua solidão e monstruosidade.
Com ligeiras alterações no enredo, a história consegue funcionar bem em palco. As músicas são cativantes e engraçadas, misturando o humor original da animação com algumas piadas mais frescas. O elenco também interagiu com a sala, que respondeu sempre com vivacidade. Notou-se um aprofundamento das histórias de Shrek e de Fiona, no que diz respeito à solidão e ostracização que os dois sempre sentiram. Alguns personagens também tiveram mais destaque em palco, como Peter Pan, Pinóquio e os Três Porquinhos. As interações entre os vários personagens arrancaram várias gargalhadas na plateia, que aplaudiu todas as músicas e marcou ritmo nos momentos mais poderosos. A animação no ar era facilmente sentida, tanto adultos como crianças aplaudiram e dançaram ao som da história. Apesar de já terem passado 20 (!) anos desde a estreia da animação, é agradável ver que a magia ainda continua e que esta história está a ser transmitida de geração para geração.
À saída do espetáculo, João, de 8 anos e fã de todos os filmes da franquia, admitiu ter gostado muito do musical. Destacou Shrek, o burro e a dragão como os seus personagens preferidos e gostou da forma como estes estavam vestidos. Apesar de tudo, queixa-se de um aspeto, juntamente com o seu pai: o som. Durante as duas horas de magia e animação, sentiu-se a necessidade de um melhor sistema de som. Vários microfones falharam durante as atuações e por vezes não se percebia aquilo que estava a ser dito ou cantado. A euforia dos mais pequenos sobrepôs-se muitas vezes ao volume das aparelhagens, ouvindo-se alguns pedidos de silêncio pela sala. Foi, realmente, um aspeto menos feliz e que pôs em causa a imersão para com a história. O desagrado com a situação notou-se na cara dos adultos e nas crianças, que começaram a perder a sua atenção. Algo que também sentimos falta foi o característico sotaque de Shrek, embora isto seja apenas uma observação de dois fãs obcecados.
Apesar das adversidades, o musical encerrou com chave de ouro e o elenco recebeu várias ovações. Algo importante de destacar é o belíssimo trabalho com os figurinos, especialmente para o Homem Gengibre, a Dragão e o Pinóquio. Os personagens estavam muito fiéis ao seu aspeto no filme da Dreamworks e o elenco funcionava. As músicas não eram de todo cansativas e forçadas, acompanhadas por coreografias cativantes. Acima de tudo, a Yellow Star Company soube usar bem o seu cast e o espaço.
É, certamente, uma boa forma de levar os mais pequenos ao teatro e passar um bom tempo e de dar uma energia renovada a um dos filmes de animação mais aclamados do século. No entanto, e como é expectável, as animações da Dreamworks continuam a ser superiores e indispensáveis. O musical é muito mais direcionado para o público pequeno enquanto os filmes conseguem equilibrar o humor e a emoção para as diferentes faixas etárias. Porém, a versão de palco é uma alternativa refrescante e proporciona umas boas gargalhadas.
“Shrek: O Musical” é uma produção da Yellow Star Company, encenada por Paulo Sousa Costa e Luís Pacheco. Existem mais duas datas para ver a peça: 7 de maio no Casino Estoril e a 24 de junho, no Convento São Francisco, em Coimbra. Os bilhetes podem ser adquiridos nos locais habituais e os preços variam entre os 15€ e 22€.
Artigo por Afonso Leite e João Jesus
Fotografia por Leonardo Machado