Cultura
Miley Cyrus – A calma depois da tempestade
Destiny Hope Cyrus nasceu predestinada a ser uma estrela. Talvez já o seu primeiro nome indicasse que o seu caminho se traçaria pelos grandes palcos, ao passo que o segundo seria a dose necessária para aguentar tudo o que tal implicaria. O nome era único, mas não tão impactante como o da personagem que a tornou mundialmente famosa. Assim, com quinze anos, Destiny mudou legal e oficialmente o seu nome – o mundo podia agora chamá-la Miley Cyrus.
Miley esteve desde cedo ligada à música graças ao seu pai, o cantor Billy Ray Cyrus. Com apenas treze anos, estreou-se como atriz principal na série Hannah Montana do Disney Channel. Foi este o papel que a catapultou para a ribalta e alterou para sempre a sua vida. Desde então, lançou oito álbuns em nome próprio e participou em vários filmes e séries de televisão. Envolta em inúmeras polémicas durante a sua adolescência e inícios da vida adulta, é inegável que Cyrus se tornou uma das grandes estrelas pop do século XXI.
A antecipação em torno deste novo álbum era elevada, dado que os fãs já vinham a notar uma evolução positiva tanto na vida como na carreira de Miley. Can’t Be Tamed, lançado em 2010, foi a rutura com a imagem de boa menina da Disney e o salto para a rebeldia que nunca pudera viver até então. Bangerz, três anos depois, foi a fase Wrecking Ball – cabelo quase rapado, performances sensuais e controversas e letras repletas de raiva. Plastic Hearts, em 2020, representou um salto de maturidade, com notas rock à mistura, e anunciou um possível apaziguamento com o passado.
“Flowers” foi o single de estreia do novo álbum de Miley, cujo vídeo chegou ao Youtube a 13 de janeiro. Sendo um verdadeiro hino de empoderamento feminino e amor próprio, a canção é uma lufada de ar fresco no reportório de Miley. A letra do refrão é uma resposta à música “When I Was Your Man” de Bruno Mars, ao passo que a melodia relembra os ritmos funk e disco de outros tempos.
A curiosidade sobre a inspiração desta música tem sido cada vez maior. Múltiplas teorias apontam que “Flowers” seja direcionado a Liam Hemsworth, o ex-marido de Miley: a canção foi lançada no aniversário de Liam, faz referência à casa do casal que ardeu em 2018 e pensasse que o ator tenha dedicado a música de Mars à antiga esposa. Independentemente da veracidade destas especulações, a verdade é que o primeiro single de Endless Summer Vacation foi um verdadeiro sucesso comercial – nos seus primeiros sete dias, bateu o recorde do Spotify com cerca de 96 milhões de streams:
“Thankful that Flowers is Number 1 around the world. This song is dedicated to my fans & the steadfast self-love I wish for each of you. Forever grateful, Miley.” (Miley Cyrus, Twitter)
Quase dois meses depois, no dia 10 de março, Endless Summer Vacation foi finalmente lançado em todas as plataformas. O disco é composto por treze faixas e conta com a participação de Brandi Carlile, em “Thousand Miles”, e Sia, em “Muddy Feet”. Todas as suas canções têm uma marca de nódoas negras do passado, mas o que sobressai são as notas de maturidade e crescimento que essas feridas deixaram. A cantora dividiu-o em duas partes – o dia e a noite em Los Angeles:
“When it comes to the sequencing of Endless Summer Vacation, I divided it by two parts — AM and PM to kind of represent almost like, an act. The AM, to me, is representing the morning time where there’s like a buzz and an energy (…) and in the evening, it’s a great time for rest, it’s a time to recover, or it’s a time to go out and experience the wild side.” (Miley Cyrus em entrevista)
Esta dualidade do dia e da noite é perfeitamente cimentada pela rouquidão da voz de Miley, a grande estrela deste disco. Tal como “Flowers”, as músicas do AM fazem-nos reviver as batidas disco das divas dos anos 80, com um toque de soft rock moderno. Por outro lado, as músicas do PM fazem-nos deambular pela tristeza e reflexão que a noite traz, mas também pela energia eletrizante de uma saída à noite que faz com que tudo isso seja esquecido, pelo menos momentaneamente.
As menções honrosas deste álbum vão para “River”, “Jaded” e “Thousand Miles”. A primeira é o segundo single deste novo álbum e assume-se como outro futuro hit. Repleto de batidas sintéticas no início, rapidamente se transforma numa música ideal para todas as pistas de dança. “Jaded” é visto por muitos como um seguimento de “Angels Like You”, canção do disco “Plastic Hearts”. É uma balada emocional onde Miley se assume consciente das suas falhas. Por fim, “Thousand Miles” é dedicada à sua irmã Noah, provando que as músicas de amor não têm todas de ser sobre amor romântico.
Endless Summer Vacation veio não só cimentar o talento de Miley Cyrus, como também fazer as pazes com o seu passado atribulado. É um álbum coeso, despido de floreados e distrações, que permite que a sua inegável qualidade vocal sobressaia. Sempre foi difícil prever aquilo que o furacão Cyrus iria fazer a seguir, mas, por agora, é seguro dizer que a artista se encontra na sua melhor versão: repleta de amor próprio.
Artigo por Amália Cunha