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“Live at Bush Hall” – Uma nova era para os BCNR

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Aquando da sua formação em 2018, os Black Country, New Road não passavam de uma banda com relativa notoriedade dentro do mundo mais underground de Londres. No entanto, dois anos e dois álbuns depois. o seu nome é já conhecido pelo mundo fora como uma das bandas de rock mais promissoras dos últimos tempos. Com a formação original composta pela baixista Tyler Hyde, por Lewis Evans no saxofone e na flauta, por May Kershaw como pianista, pelo baterista Charlie Wayne, por Luke Mark na guitarra e com a liderança do guitarrista e vocalista principal Isaac Wood, a banda de Cambridge apareceu na cena mundial do indie-rock com os álbuns “For the First Time”, em 2021, e “Ants From Up There”, em 2022. Durante os primeiros 4 anos da banda, o rumo artístico da mesma é creditado em grande parte a Wood, na altura o letrista principal, que abandonou a banda meros dias antes do lançamento do seu segundo álbum por razões de saúde mental, o que levou ao cancelamento da primeira tour nos Estados Unidos.

Agora sem o principal compositor e vocalista, os restantes seis membros da banda anunciaram, em 2022, que já estavam a trabalhar em novas músicas e que, como sinal de respeito por Isaac, não iriam tocar nada dos primeiros dois álbuns, clarificando também que o seu regresso à banda seria recebido de braços abertos, caso ele o desejasse. Porém, Tyler Hyde, baixista da banda, sublinhou que o próximo projeto da banda não seria necessariamente sob a forma de um álbum normal, referindo ainda trabalhar com uma orquestra ou compor a banda sonora de um filme como alguns dos possíveis interesses do grupo. É deste período de incerteza que nasce “Live at Bush Hall”, um concerto filme composto por três espetáculos gravados ao longo de dois dias, em Bush Hall, Londres.

Este novo projeto da banda britânica revela mais uma vez a sua capacidade inovativa, principalmente na forma como procuraram combater os problemas associados com gravações ao vivo. Assim, tratando esta performance como nada mais do que um filme, os jovens artistas, auxiliados pelo diretor Greg Barnes, criaram três narrativas distintas para acompanhar a sua performance que são apresentadas como peças de teatro escritas pelo dramaturgo ficcional Hubert Dalcrosse, nomeadamente: “When The Whistle Thins” sobre um conselho de agricultores que se reúne para discutir a sua colheita; “I Ain’t Alfredo No Ghosts” que relata a história do encontro de um chef de pizza com um fantasma; e ainda “The Taming Of The School” cujo o tema se centra num baile de finalistas em 1981.

Black Country, New Road são um dos grandes nomes do cartaz do Super Bock Super Rock deste ano. Foto: D.R.

Estas narrativas não têm necessariamente qualquer correlação com os temas das músicas, servindo, no entanto, para acentuar os cortes entre os espetáculos em alternativa a tentarem ocultá-los como é a norma neste tipo de gravações. A experiência de visionamento torna-se mais imersiva e estilisticamente apelativa, uma vez que o sexteto tinha personagens atribuídas em cada “peça”, adornadas por um guarda roupa e decoração característicos. Fica como exemplo, o vestuário estilo pastoral em “When The Whistle Thins” ou a faixa que diz “Class of ‘81” em “The Taming Of The School”.

Os Black Country, New Road são conhecidos por surpreender os fãs na forma como se vão constantemente reinventando e adaptando, algo percetível nas diferenças temáticas e estilísticas do primeiro para o segundo álbum e agora do terceiro em relação a ambos. “Live at Bush Hall” prima, acima de tudo, pela diversidade, presenteando-nos tanto com músicas mais ‘upbeat’ em “Up Song”, como outras sobre relações românticas complicadas em “I Won’t Always Love You”. As referências ao antigo membro, Isaac Wood, foram claras e abundantes ao longo do álbum, como por exemplo no coro de “Up Song” – “Look at what we did together / BCNR, friends forever!” – ou então na música “Wrong Trousers” – “We made something to be proud of”. Todavia, a influência de Wood vai muito além destas referências, apesar de as letras em maior parte das tracks serem agora mais claras, “The Boy”, uma história contada em três capítulos, e “Turbines/Pigs”, um waltz de piano de quase 10 minutos, destacam-se por uma complexidade lírica claramente herdada de uma altura da banda liderada por Wood.

É importante realçar o papel de Tyler Hyde como principal vocalista neste álbum, tendo liderada em cinco das nove músicas, chegando mesmo quase a “conduzir” o resto da banda em “I Won’t Always Love You”, onde marca o tempo com a sua mão direita. Para além de Hyde, também Lewis Evans e May Kershaw usufruíram do microfone, destacando-se “Across the Pond Friend” para Evans, e “The Boy” para Kershaw, com comparações a nível vocal com Björk.

Com “Live at Bush Hall” os BCNR não só voltam a demarcar-se dentro de uma nova corrente do Rock, como procuram revitalizá-lo através da inovação dos moldes herdados por bandas como Arcade Fire. Este é o início de uma nova era da banda que caminha a passos largos para deixar de ser uma mera promessa, para passar a ser um dos nomes mais influentes da música internacional. Para comprovar isto nada como ver o concerto filme que se encontra disponível no Youtube e ouvir o álbum em qualquer plataforma de streaming. Os Black Country, New Road estarão presentes no Super Bock Super Rock deste ano, atuando ao vivo dia 13 de julho.

Artigo por Duarte Leite

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