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Cultura

Uma Dança com o Camaleão do Rock: “Let´s Dance” 40 anos depois

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No inicio da década de 80, o panorama musical passava por uma grande fase de transição derivada, em muito, do surgimento da MTV, em 1981, que ajudou a popularizar novos nomes revolucionários no mundo do espetáculo, como Madonna (cujo primeiro álbum surge em 1983), bem como alguns clássicos do pop-rock que perduram até hoje como “Thriller” de Michael Jackson (1982). Sendo assim, e como não poderia deixar de ser, David Bowie fez parte desta mudança, aparecendo reinventado no lançamento desta obra em 1983.

Este que é o 13º álbum de estúdio do músico, traz-nos Bowie com um visual totalmente novo, com cabelos loiros platinados e fatos coloridos, adaptando-se ao que as massas da altura pediam, mas mantendo sempre o seu charme já habitual. A sua sonoridade passa a um rock mais dançado e, de certa maneira, mais comercial: algo que não agradou ao seu público mais antigo, por se afastar das suas “raízes” de som experimental e alternativo.

Apesar de não apresentar uma grande composição lírica em comparação com outros dos seus trabalhos, “Let’s Dance” conta com grandes colaborações com alguns dos mais importantes artistas da época, como Nile Rodgers, produtor do álbum, com a sua guitarra num tom mais funky, e Steve Ray Vaughan, com o seu solo icónico na faixa “Let’s Dance”.

“But things don’t really change/ I’m standing in the wind/ But I never wave bye-bye”

A primeira faixa do álbum, “Modern Love”, acaba por ser aquela que mais foge das críticas, sendo considerada a única com uma lírica com mais significado e complexidade, fazendo jus à grande carreira de Bowie. A música é uma incrível abertura, definindo um pouco do que será o resto que está por vir, combinando, da melhor maneira, o estilo do álbum com o som clássico do artista. “Modern Love” tem um sentido profundo nas suas palavras, não deixando de ser divertida, contagiante e, acima de tudo, dançante.

“I’m feeling tragic like I’m Marlon Brando/ When I look at my China girl”

Seguidamente entra “China Girl”, um som de amor dedicado a uma adolescente asiática, com uma letra algo polémica para os dias de hoje, mas uma autêntica obra prima. Adaptada da original escrita em 1977 com o amigo de longa data Iggy Pop, para o seu disco “The Idiot”, esta faixa fez com que fosse sentida a genialidade de Bowie e Rodgers, tornando-se num dos maiores hits de toda a carreira do músico. Esta versão de “China Girl” acaba por ser uma interpretação mais ‘acessível’ e mais pop da música original. Apesar de tudo, continua a ser um perfeito exemplo da facilidade do artista britânico em incorporar elementos inovadores na sua música.

“Let´s Dance – Put on your red shoes and dance the blues…”

De todo este grande álbum, não se pode deixar de referir o single que é seu homónimo. “Let’s Dance” incorpora tudo aquilo que foi o mainstream dos anos 80 em termos artísticos: alegria, dança e otimismo. São exatamente estes os tópicos abordados pelo músico na letra, que, acompanhada de uma batida animada e energética, torna praticamente impossível que se fique parado enquanto se escuta este que foi um dos maiores êxitos comerciais da década.

Frame do videoclipe de “Let’s Dance”.

Como porta de saída deste disco, Bowie apresenta-nos “Shake it”. Uma música mais associada a um funk-rock, animada e, como já havia sido repercutido por todas as outras faixas, com um ritmo vibrante e agitado, que convida realmente a “abanar-nos”, e um refrão cativante, perfeito para o fecho do álbum. Todos estes atributos acabam por refletir, de certo modo, a pressão que David Bowie teria sentido para criar algo mais commercial, transformando-se para o que era pedido à época.

Este álbum acaba, assim, por simbolizar o que David Bowie foi ao longo de toda a sua carreira, um camaleão. Um artista que sempre se soube moldar consoante as evoluções da indústria, mas sem nunca abdicando do ditar do caminho do que deveria ser escutado. Não podemos deixar de relembrar este artista, quarenta anos depois do lançamento de uma das suas maiores obras, como um visionário para o seu tempo e um dos maiores nomes da música de todos os tempos.

Artigo escrito por Vasco Reis