Cultura

Rabo de Peixe: os portugueses chegaram ao charco dos tubarões

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No dia 6 de junho de 2001, o barco de um mafioso italiano, carregado com mais de uma tonelada de cocaína naufraga na ilha de São Miguel, vindo a droga a dar à costa. Assim começa um dos eventos mais marcantes na vida dos habitantes de Rabo de Peixe.

A série gira, então, em torno deste acontecimento verídico, apesar de contar com um grande acréscimo de ficção. Ao longo de sete episódios seguimos a história de Eduardo (José Condessa), um jovem pescador de Rabo de Peixe, vindo de uma família precária, que se vê embrenhado numa situação que podia mudar a sua vida. O pai (Adriano Carvalho) precisa de fazer uma cirurgia cara que lhe traga de volta a visão e Eduardo percebe que aquele incidente pode transformar-se numa forma de ajudar o pai.

Com o naufrágio, e com a perspetiva de uma nova hipótese na vida, a personagem principal, em conjunto com o seu grupo de amigos, Rafael (Rodrigo Tomás), Sílvia (Helena Caldeira) e Carlinhos (André Leitão), vê uma escapatória à sua sina.

Para alterar o seu destino, o grupo vê-se obrigado a enfrentar diversos mafiosos como o pai de Sívlia, Arruda (Albano Jerónimo), os italianos que perderam a cocaína, Bonino (Marcantonio del Carmo) e Monti (Francesco Acquaroli) bem como a PJ, composta pela inspetora Paula (Maria João Bastos) e inspetores Francisco (Salvador Martinha) e Banha (João Pedro Vaz).

Ao longo do caminho são apresentadas diversas personagens que irão ajudar o grupo de amigos a chegar a uma nova vida, como: Bruna (Kelly Bailey), filha de Banha, e Ian (Afonso Pimentel).

Toda a trama de “Rabo de Peixe” é narrada porJoe (Pepe Rapazote) – Uncle Joe para Eduardo – numa estranha mas cativante mistura entre português e inglês que nos ajuda a mergulhar ainda mais nestes sete episódios.

Filmada nos Açores e em Mafra, a série conta ainda com uma incrível imagem, uma banda sonora que nos faz viver o momento e um humor característico português, sem ser em demasia ao ponto de se tornar foleiro, 

A maneira como é retratada a vida em Rabo de Peixe faz-nos ainda repensar todos os nossos problemas, a sorte que temos por poder ter um futuro à nossa frente e não viver já com o destino traçado, como os habitantes daquela zona.

“Rabo de Peixe” procurou ainda adicionar elementos da cultura da vila que dá nome à série. Tal é o caso da inclusão do músico Sandro G (interpretado por Romeu Bairros), desta maneira é conseguido na perfeição a mistura entre realidade e ficção, adicionando à série um carisma muito próprio.

A série pode ser considerada uma grande surpresa, pela positiva, retratando de uma bela maneira os Açores e, provando que em Portugal também temos qualidade para atingir grandes palcos a nível cinematográfico mundial.

Com uma abrangência demográfica gigante, pode interessar a todas as faixas etárias. Variando entre a ação e o suspense, momentos de comédia e até a, de certa forma, uma nostalgia que este fatídico e insólito acidente pode ter suscitado na vida dos portugueses.

Augusto Fraga, mais conhecido por ser  realizador de publicidade, pode ter encontrado em “Rabo de Peixe” o seu pináculo criativo. O realizador e co-autor do argumento, nascido nos Açores, apenas começou a desenvolver o guião da série quando o concurso, que viria a vencer, foi aberto pela própria Netflix, vendo aí a sua oportunidade de se estabelecer no mundo das séries.

O “sonho da América”, muito referido ao longo de “Rabo de Peixe”, nasce da própria experiência de Fraga, que refere que essa ideia é algo que ele e muitos dos habitantes do arquipélago sentem, por ouvirem, desde pequenos, histórias do que havia para lá do Atlântico e que lhes impelia uma necessidade de explorar o mundo.

 É de visualização obrigatória para quem quer entrar um pouco mais no mundo da cinematografia portuguesa ou quem procura apenas uma série que o faça prender ao ecrã.

Artigo da autoria de Vasco Belo Reis

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