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Cultura

“O 25 de abril nunca aconteceu” – o poder de relembrar uma realidade distante

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E se nunca tivesse acontecido? E se a diferença entre rosas e cravos estivesse apenas na forma? Se foi a 27 ou 28… foi a “vinte e tantas”! Mas uma coisa é certa: a Revolução falhou. 

Esta é a premissa da peça teatral de Ricardo Alves, “O 25 de abril nunca aconteceu”, que está em cena no Teatro Carlos Alberto, no Porto, até ao dia 27 de abril, no qual será apresentada com tradução em Língua Gestual Portuguesa e audiodescrição. A peça é uma distopia-homenagem ao Dia da Liberdade que projeta um 2024 vivido em Ditadura Militar, que prevaleceria, então, há quase um século. Conta, então, com o texto e encenação de Ricardo Alves e com a interpretação de Beatriz Baptista, Eloy Monteiro, Ivo Bastos, Filomena Gigante, Mário Moutinho, Rodrigo Santos e Valdemar Santos

O teatro, posto em cena pela companhia portuense Palmilha Dentada, guarda toda a sua magia no guião. Os cenários e os figurinos são simples e os adereços são poucos, apesar de todos eles cuidadosamente escolhidos e indispensáveis para a criação do seu imaginário e personagens – um sombrio e roupas que, em 2024, parecem saídos de 1970. Mas é mesmo esse o objetivo: mostrar o colapso da evolução que a ditadura promoveu

É, no entanto, no guião que está a essência da peça. Um roteiro que contém a possibilidade de rir e de chorar, a possibilidade de fazer pensar e de colocar quem pela ditadura não passou tão perto dessa realidade, que se chegam a sentir como parte do povo que vive, em palco, e viveu, há 50 anos, este regime opressivo – e opressivo até nas mais pequenas coisas e menos evidentes, que surgem agora salientadas nesta peça.

Seja na inexistência das Crocs ou da Coca-Cola, no facto da Amy Winehouse ter morrido há já mais de 10 anos e ninguém o saber, ou até no Cristiano Ronaldo, que apesar de ter sido um jovem prodígio, nunca conseguiu avançar na carreira, porque o Benfica era a maior e melhor transferência para o jogador que estava proibido de sonhar além-fronteiras, esta peça demonstra-nos como seria o nosso país, caso nunca se tivessem aberto as portas que a revolução abriu

Imagem: Teatro Nacional de São João.

O encenador admitiu especial atenção às camadas jovens na escrita desta peça, tendo pretendido mantê-la leve, de certa forma, recorrendo frequentemente à comédia e ao ridículo, mas sem nunca comprometer a pertinência e a seriedade de um tema como este.

Em especial destaque, coloco o final da peça, alterado após as eleições legislativas de 10 de março. É forte e embate no público como um choque de realidade. Este desenlace conta com um momento musical em grupo, de cravos na mão, o único apontamento de cor vibrante em toda a peça, sobressaindo a magnífica voz de Beatriz Baptista, capaz de deixar o público em lágrimas depois de pouco mais de 1 hora de envolvência nas lutas e perturbações das famílias representadas.

“O 25 de Abril nunca aconteceu” é uma brilhante homenagem à revolução de 74, que se foca na falta que ela nos fazia e ainda faz, demonstrando a importância de mantermos viva e em memória, agora mais do que nunca, a liberdade e a democracia.  

Por Diana Filipa Vidal

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