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Cultura

Terceiro e último dia do Primavera Sound: rock, punk e eletrónica

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No seu terceiro e último dia, o Primavera Sound Porto 2024 apresentou Pulp e The National como cabeças de cartaz, mas a noite foi muito mais do que isso, surpreendendo agradavelmente todos os que marcaram presença no passado dia 8 de junho no Parque da Cidade do Porto.

Apesar do dia nublado e chuvoso, Tiago Bettencourt e Best Youth abriram o último dia do Primavera Sound da melhor forma possível. Bettencourt começou com o single “Partimos a Pedra”, do seu sexto álbum de estúdio, sendo recebido por um público de várias idades que o acompanhou do início ao fim, aplaudindo enquanto cantava com ele. De extrema simpatia e sempre interagindo com os todos os presentes, o artista cantou ainda “Se Me Deixasses Ser” e as músicas “Caminho De Voltar” e “O Jogo” , que foi um dos momentos  mais emocionantes, devido à chuva torrencial que caía sob o recinto, ao mesmo tempo em que o artista proclamava “vem que a água vai lavar o que te dói”. Tiago Bettencourt cantou também o famoso single “Carta”, com uma fortíssima participação emotiva do público e encerrou o concerto com “Morena”.

Sucedeu-se depois a banda portuguesa Expresso Transatlântico, que encheu a alma de todos os presentes com a tradição portuguesa. Com uma apresentação cheia de vida, que consagrava a icónica guitarra portuguesa, com a guitarra elétrica, trombone e percussão, a banda cativou o público e chamava por ele, pedindo que dançasse para “espantar a chuva”. Apresentaram várias músicas do seu mais recente álbum, “Ressaca Bailada” e ainda o single “Azul Celeste”, que consagra o primeiro EP da banda. Expresso Transatlântico, sempre sorridente e a saltar pelo palco, fez com que a nossa guitarra portuguesa fosse a personagem principal do início ao fim – não fosse esta tocada por Gaspar Varela, que em 2019 foi convidado por Madonna a participar na sua tour mundial.

Paralelamente, atuava a banda Americana de punk hardcore GEL no palco Vodafone e mesmo com a chuva, a banda foi capaz de dar um concerto completamente energético e impagável, que levou os fãs à loucura. Ela foi formada em 2018, pelo guitarrista Bobko e baterista Zach Miller, mas agora conta com cinco integrantes e com um total de 2 álbuns de estúdio.

Ao final da tarde, Mannequin Pussy dominou furiosamente o palco principal, começando o concerto com “Sometimes”. Assistida por público de todas as idades, várias músicas do mais recente álbum da banda, “I Got Heaven”, como “Loud Bark”, “OK? OK! OK? OK!” e “I Got Heaven” foram muito bem recebidas e aclamadas pelos fãs do punk rock alternativo. Por entre o concerto, a vocalista Marise Dabice – ou Missy – gritava pela aceitação de cada ser humano e vociferava contra os conflitos bélicos presentes nos dias atuais, exigindo o fim da opressão. O baixista da banda, Colins “Bear” Regisford cantou também o single “Pigs Is Pigs” condenando raivosamente a violência e o racismo, salientando ainda mais a profunda militância da banda que marcou o terceiro dia do festival. Já no palco Super Bock, a americana de 32 anos, Joanna Stenberg apostou num concerto mais intimista e calmo, apresentando músicas dos seus dois álbuns de estúdio “I’ve Got Me” (2023) e “Then I Try Some More” (2019).

The Legendary Tigerman foi outra agradável surpresa. Variando entre rock progressivo, eletrónica e indie, e com um figurino impecável e uma presença exímia no palco, Paulo Furtado, acompanhado por Sara Bandalo e Mike Ghost, contou com um extenso e energético público de todas as idades. Desde os single “Good Girl”, “Bright Lights, Big City” e “Losers” até a covers de Nancy Sinatra, Tigerman manteve-se imparável em cima e fora do palco. Saltou as grades para o meio do público e interagiu com toda a gente; ofereceu abraços e conforto. Participou nos mosh pits e cantava agarrado aos fãs, pedindo-lhes que desligassem os telemóveis. Falou-nos ainda da empatia e apelou ao voto – coincidindo com as eleições europeias no dia após o seu concerto – deixado-nos com o coração quente e o recinto do Primavera Sound com uma energia invejável.

Ao cair da noite, PULP deu o seu 546ª concerto para milhares de pessoas, anunciando nos ecrãs que “um encore acontece quando a multidão quer mais (…) por isso façam barulho” antes de apresentarem “I Spy”. Com excelentes jogos de luzes e visuais nos ecrãs e bolas de espelhos, a banda inglesa dominou completamente o recinto do palco Vodafone, que fervia com os clássicos que eram tocados. Desde “Disco 2000”, a “Do You Remember The First Time” e “This is Hardcore”. O público vibrou do início ao fim, com o desenrolar dos clássicos e Jarvis Cocker estava impagável; ofereceu rebuçados ao público, falou português e ainda anunciou que se iria casar em breve.

A outra banda cabeça de cartaz, The National, também teve o seu momento de glória no palco principal, onde deu o mais longo concerto do dia, com um recinto completamente cheio. Abrindo a atuação com “Sea of Love” e “Eucalyptus”, o público foi à loucura, especialmente quando Matt Berninger elogiou a cidade do Porto. Já conhecendo Portugal desde 2005, The National deu, mais uma vez, um concerto impecável e energético, recheado de clássicos, como “Don’t Swallow the Cap” e “I Need My Girl”. Mas aquilo que mais marcou a atuação foi a insistência de Berninger em integrar-se no meio do público, cantando deitado – literalmente – sobre ele e escapulindo-se para fora do palco, cumprimentando com todos aqueles que lhe apareciam à frente.

O dia encerrou com atuações simultâneas de Arca e Mandy, Indiana; que contagiaram o recinto inteiro. No palco Vodafone, a produtora e DJ Venezuela começou o concerto com um instrumental angelical e a música “Madre”, onde não se acanhou nos vocals. Sempre com grafismos impressionantes, absolutamente futuristas e fora da caixa, Arca contou com uma extensa plateia efusiva que aplaudia sem parar enquanto a artista apresentava as suas composições que variavam entre “experimental noise”, hyperpop e música eletrónica. Com uma forte e provocativa presença em palco, encarando as câmaras; cantou as mais esperadas “Incendio”, “Prada” e “Rakata”, levando o público à loucura no momento em que foi cumprimentar a front line. Arca terminou a sua apresentação, mais uma vez, com vocals impecáveis em “No Quedo Nada” e “Fireprayer”, levando várias pessoas às lágrimas, enquanto iluminava todo o recinto e contagiava-o com um sentimento de leveza.

Apesar dos constrangimentos meteorológicos e das mudanças de horários que eventualmente aconteceram, a edição de 2024 do Primavera Sound estava recheada de hidden gems que não desiludiram nada o público. Adaptando-se a todos os gostos musicais ao longo de três longos dias, o festival deixa-nos ansiosos para a edição do próximo ano.