Cultura

A ANARQUIA COMO PALAVRA DE ORDEM DO TEATRO

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Comédia num único ato é considerada a primeiríssima das obras da corrente estética teatral, batizada por Teatro do Absurdo, que surge após a Segunda Grande Guerra.

Originalmente retratada na sala da família, Smith é agora deslocada para o jardim, adaptação que se coaduna com a visão que este grupo tem da peça.

Altamente irónico, o texto conservou o absurdo nos diálogos que, marcados por clichés e futilidades, resultam numa completa incomunicabilidade entre os personagens.

Não esquecendo que o foco central da peça é a linguagem, ou, melhor dito, o mau uso desta, a peça pretende mostrar o poder do riso como disfarce do facto de nunca realmente nos entendermos.

A desconstrução dos diálogos provoca uma consequente desconstrução do teatro e da preconceção que temos desta arte. Porque não começar a apresentação já com aplausos? Porque não acabar e deixar o público desconfiado, a trocar olhares e a perguntar baixinho “mas será que acabou mesmo?”.

O resultado destes 50 minutos não advém de uma mera leitura de um texto com 60 anos, mas sim da liberdade criativa, de um jogo onde as personagens foram tratadas como marionetas e onde o teatro se alargou a novas regras, às regras que faziam sentido para este grupo.

O Grupo Crinabel Teatro é um coletivo com 27 anos de existência, criado no seio da Crinabel Cooperativa de Ensino Especial, e que tem vindo ao longo do seu percurso a desenvolver um trabalho artístico com jovens portadores de deficiência mental, de modo a potenciar as suas capacidades artísticas, sociais e pessoais.

É por isto que, mais do que personagens, são apresentadas pessoas, que moldam as palavras à sua realidade e que não têm problemas em se apresentar ao público e dizer que não vale a pena esperar pela cantora careca, ela não vai chegar. E o final da peça também não ia.

Através do exercício da não comunicação ficamos avisados: é importante realmente comunicar.

“Meu verdadeiro nome é Sherlock Holmes. [sai].”

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