MIGUEL CLARA VASCONCELOS: O REALIZADOR CUJA SAUDADE INSPIROU

Miguel Clara Vasconcelos foi o vencedor da Competição Nacional do Festival Internacional de Cinema – Curtas Vila do Conde no ano de 2005 e também da última edição. Tal qual “bandido que volta ao local do crime”, e a convite do Curtas, Miguel voltou no passado dia 8 de Novembro, ao Teatro Municipal da cidade, para uma masterclass de abordagem à sua obra.

Esta actividade surge no âmbito do Campus, um programa que visa promover actividades de formação, workshops, debates e produção de filmes entre realizadores experientes e estudantes da área do cinema. Consistiu-se por uma conversa informal e visualização do filme premiado do realizador, o “Triângulo Dourado”, e “Jaime” de António Reis e Margarida Cordeiro, escolhido pelo mesmo, como repto à organização.

Miguel Clara Vasconcelos encontra-se atualmente numa residência artística, em fase de pesquisa para um novo projecto inspirado na cidade de Vila do Conde. O realizador justifica a escolha de “Jaime”, de 1974, pela forte relação do filme com a água e a geometricidade do mesmo. Esta curta que nos fala sobre Jaime, uma personagem que nunca aparece, exceto em fotografia, e que morreu após doença psiquiátrica mostra-nos a sua perturbação e universo conturbado. Uma necessidade de voltar ao seu ambiente rural das terras de Barco, da Beira Baixa, e de sair do hospital psiquiátrico que o reduz. Este filme que influenciou vários realizadores como João César Monteiro para o “Recordações da Casa Amarela”, co-relaciona-se com o filme do premiado, não pelos desenhos com traços fortes e textura densa, mas sim pelo som e pela forma literária com António Reis expõe a ação: “uma não narrativa com coerência, mas não uma história comum”.

Relativamente ao “Triângulo Dourado”, o autor conta ao público que o filme “foi um processo nostálgico muito forte, transmite serenidade em resposta à minha frustração de querer estar em Portugal”. O elemento água é uma constância neste filme, sendo que maioritariamente se passa nas margens do rio Sena, nos subúrbios do Sul de Paris. Miguel confessa que as saudades do mar de Vila do Conde diminuíam quando se encontrava na zona mais larga do rio, sendo um local que lhe transmitia calma, o único que lhe dava vontade para filmar. Com um argumento que tem por base um poema escrito pelo mesmo, pelos seus 20 anos, o filme fala-nos sobre viajar, como uma necessidade de não sedentarizar, uma viajem física e poética, uma reflexão sobre estar de passagem, mas estar preso a esse lugar momentaneamente. Como nos diz: “nunca são lugares de ficar, são lugares de passagem”. O autor confessou que todos os dias, quando na sua bicicleta, passava naquele local, lembrava-se do poema e assim decidiu usá-lo para criar a curta-metragem.

Após um guião inicialmente complexo e extenso ao qual foi retirando personagens até aos elementos mínimos, utilizando cenas em que a serenidade contrasta com a velocidade e céus de Canaletto, Miguel Clara Vasconcelos consegue juntar através de pontes e pela voz de Sheylla, uma correlação triangular de assuntos como o amor, solidão e distância.

Esta atividade apoiada pela Cinemateca Portuguesa corresponde a uma parceria entre a Curtas Metragens CRL, no âmbito do programa Campus, apoiado pelo QREN/ Programa Novo Norte e a Sociedade Portuguesa de Autores.