Cultura

UM SÁBADO AO RUBRO NA COMIC CON

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O dia de ontem (6) começou cedo para os fãs da cultura pop. Pelas nove horas, os autocarros já estão lotados, deixando algumas caras mais agitadas para trás. Na hora de abertura a Exponor já descreve uma fila de pessoas de dezenas de metros.

O frio faz-se sentir e ouve-se comentários de desinquietação. Ainda assim, vêm-se surgir várias pessoas em fatos de fantasia menos agasalhados. As várias cores parecem preencher um trilho que antecipa o dia animado que se avizinha.

 

Miguelanxo Prado

O auditório Comics começa a encher-se de rostos ansiosos. Miguelanxo é um escritor e ilustrador de banda desenhada galego que recorda animado os seus tempos de adolescência: “Cheguei tarde ao mundo da banda desenhada; comecei aos 20/21 anos”. Nesta altura, os editores tiveram alguma dificuldade em aceitar a sua visão. Miguelanxo “queria contar histórias diferentes”, e os editores estavam mais habituados a séries de banda desenhada.

O moderador da conversa questiona Miguelanxo acerca da divisão bipartida das suas obras: uma parte mais interventiva e de crítica social e humorística, em oposição a uma pessoal e profunda. Prado fica hesitante. Acaba por confessar que não pode escolher entre uma das duas opções, porque são imprescindíveis.

Miguelanxo alerta ainda que “não chega ter talento, ter vontade, saber fazer as coisas, é necessário uma curta percentagem de sorte”.

 

Natalie Dormer

O auditório A é o local com mais afluência. A atriz de Game of Thrones e The Hunger Games chega às 15h, mas as cadeiras já estão praticamente cheias uma hora e meia antes. “Vamos, vamos se não ficamos sem lugar!”, duas jovens apressam-se já correndo para a bancada do fundo.

A poucos minutos da hora H, começam a ouvir-se assobios entusiasmados e de fundo revela-se a sonoridade do mimo-gaio, característico dos filmes de The Hunger Games. O moderador surge em palco e grita com exaltação “Brace yourselves, Natalie is coming!” (Preparem-se, a Natalie está a chegar!).

A atriz sobe ao palco, acompanhada por um entusiasmo sonoro vibrante e confessa ser surpreendente a sua receção, agradecendo em português, fazendo a delícia dos presentes.

As questões focam-se no seu papel como Margaery em GOT, onde Dormer revela que a coisa mais engraçada na série é que nunca sabe com quem irá trabalhar nas temporadas seguintes. É também neste seguimento que confessa não ter lido os livros da série, mas de forma intencional. Os realizadores da série explicaram-lhe que ler os livros poderia não ajudar na construção da sua personagem – poderia mesmo fazer o contrário.

A conversa com o público torna-se animada, e quando questionada acerca da cultura “geek” em que se insere o seu trabalho, Natalie diz que foi essa a cultura que mudou a carreira e a vida dela. Adora esta cultura, e diz que é a melhor audiência que se pode ter, porque são os mais informados. Natalie afirma, entre risos, “You know your shit!”.

Os braços da audiência agitam-se fervorosamente no ar na tentativa de conseguirem fazer aquela pergunta à atriz. Natalie confessa que, não consegue escolher um papel preferido entre os vários que já realizou e era “como perguntar a uma mãe qual é o seu filho predileto”, mas que se pudesse ser outra personagem em GOT seria um dragão: “Fuck it! I would be a dragon, I wanna fly!

Um jovem sem complexos dirige-se à atriz e pede-a em casamento, fazendo os que o rodeiam desmancharem-se a rir. A atriz parece desenhar um rosto cada vez mais calmo à medida que se envolve com a audiência e apercebe-se da tranquilidade dos portugueses, que não hesitam aos seus anseios mais frontais.

Explica ainda que este ano está a tentar algo diferente com GOT. Não lê o guião inteiro, para poder ver a série como fã. Dormer não resiste em elogiar a cidade, lamentando que não possa ficar tanto tempo como queria: “I can’t spend much time as I wanted, I hope I would come back next year. You have great wine!

 

Paul Blackthorne

A sessão de autógrafos de Paul Blackthorne, ator da série de sucesso “Arrow” e “Dumb and Dumber”, provocou uma enchente de pessoas no recinto “Hall of Fame”.
Quando o ator sobe ao palco, o público entusiasma-se entre gritos e palmas. E, inesperadamente Paul desce e junta-se aos fãs para tirar uma selfie com eles. As pessoas rapidamente se apertam entre empurrões para conseguirem ficar na fotografia especial.

De seguida pede aos fãs que gritem e tira-lhes uma foto.
A fila é longa, e quando termina o tempo da sessão ainda estão dezenas de pessoas à espera de um autógrafo. O moderador dá a notícia tão esperada: o ator vai ficar mais tempo para conseguir estar com mais fãs. A novidade faz soltar gritos de entusiasmo e exaltam-se “Arrow! Arrow!”.

E o ator fica no aclamado “Hall of Fame” por várias horas, sempre com energia e surpreendendo os presentes pela sua consideração pelos fãs.

 

Wingz Studio

João Ferrano fala da sua empresa “Wingz” que desenvolve jogos no auditório Games. O seu primeiro jogo “Stringz” consistia num puzzle game onde a ideia é usar o menos cumprimento de corda possível para levar um pequeno ET de volta à sua nave espacial, onde o levará a novas missões.

Mesmo com o vigente sucesso deste jogo a empresa decidiu inovar. A sua ideia inicial era criar um jogo que envolvesse um jogador de futebol versus aliens. A primeira opção foi o Cristiano Ronaldo, o que não foi possível. A escolha foi, portanto, Radamel Falcão. Criou-se então o jogo “Falcão vs Aliens” que é um jogo completamente gratuito na appstore.

Este jogo é rentabilizado através do uso dos patrocínios do jogador, que são publicitados no jogo em troca de patrocínio ao jogo. Usar estrelas do futebol também facilita a divulgação do jogo e já se somam meio milhão de jogadores só em versão light. Durante o Mundial tiveram grande visibilidade: “tivemos projeção brutal que obviamente se refletiu em sucesso”.

 

Capitão Falcão

A apresentação do filme Capitão Falcão contou com o moderador Rodrigo Nogueira, o “puto perdiz” David Chan, o capitão Gonçalo Waddington e o realizador e argumentista João Leitão.

Um ditador sempre tem de lidar com várias adversidades. Ora que estamos em pleno Estado Novo e Oliveira de Salazar podia contar com a ajuda de um super-herói com um bigode avantajado: o capitão Falcão. É esta a ideia que João Leitão quer transparecer com o seu filme: “há muita gente em Portugal que quer fazer comédia, mas quer fazer sem ofender ninguém”.

A conversa com o público desenrola-se e a curiosidade desponta. O Capitão Falcão vai lutar contra os comunistas e outros opositores ao regime num estilo claramente “estúpido”, segundo o realizador.

Esta paródia e sátira social surge entre várias lutas onde o Capitão Falcão e o seu ajudante o “Puto Perdiz” se defrontam em coreografias de rixas: “Nenhuma luta será gratuita. Tinha de haver uma narrativa para não serem só lutas”. A ideia principal era “fazer um lago dos cisnes de porrada” diz o realizador entre risos.

Um filme claramente português que apesar de não ter nenhum palavrão “é o filme mais ofensivo que já foi feito”, na opinião do argumentista.

Sem dúvida a conversa mais coloquial do dia, coloca o público e os convidados em pleno clima de descontração sem reservas aos temas mais rebuscados.

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