Cultura

PORTO/POST/DOC: BOFETADA DE LUVA BRANCA NO SONHO IMPERIAL PORTUGUÊS

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O terceiro dia do Porto/Post/Doc continuou o seguimento do anterior com a exibição de peças a concurso no Pequeno Auditório do Teatro Rivoli. Às 15h00, “Storm Children –Book One”, de Lav Diaz, revisitou as Filipinas como país do mundo mais atingido por intempéries. Um cenário extremamente atual tendo em conta a tempestade que tem assolado o arquipélago nos últimos dias, focando-se na passagem do tufão Yolanda, do ano passado, e o grau de devastação deixado pelo mesmo.

A competição esteve também o “9999”, de Ellen Vermeulen. A longa metragem retrata de uma prisão belga onde os reclusos, sendo considerados doentes psiquiátricos, não têm prazo definido para cumprimento da sua pena, mas também não recebem o tratamento adequado. O filme será novamente exibido no dia 12.

O Cinema Passos Manuel abriu igualmente as suas portas para exibir “Praga”. O documentário da autoria de Hélène Robert e Jérémy Perrin aborda a eterna luta entre o ser humano e o restante reino animal, colocando em particular destaque a situação da cidade do Porto no que concerne ao crescimento da população de gaivotas. Entretanto, na FNAC de Santa Catarina, os estudantes do Curso de Comunicação Audiovisual da Escola Secundária Artística Soares dos Reis tiveram oportunidade de exibir as suas obras documentais desenvolvidas ao nível do projeto “School Trip”.

Seria porém no Grande Auditório do Teatro Rivoli que estaria reservada a principal sessão deste dia, com a abertura oficial do Festival. Inserida no contexto da temática Persona, uma das desenvolvidas ao longo da semana e meia de exibições, o destaque foi reservado para as questões dos direitos humanos, sobre pontos de vista políticos, sociais e económicos.

Dario Oliveira, diretor do Porto/Post/Doc, iniciou o discurso referindo-se à forma como o projeto, que iniciou há cerca de um ano atrás, desempenha um importante papel na cidade. Dário focou também o plano cultural interventivo que não seria possível, segundo ele, sem as pessoas que compunham a maioria dos lugares daquele auditório. Também a António Ponte, Diretor da Secção Regional da Cultura do Norte, couberam palavras sobre a importância do evento, elogiando os próprios organizadores. Tiago Guedes, diretor do Teatro Municipal do Porto, mostrou-se orgulhoso em receber a iniciativa. Foi ainda chamada a palco Sophie Vukovic para apresentar o documentário “Concerning Violence”.

Seguiu-se a apresentação de Göran Hugo Olsson: baseado no livro de Frantz Fanon, “The Wretched Of The Earth”, o realizador descreve em documentário a colonização dos países africanos e a sua implicação, incluindo o fenómeno de descolonização. De facto, ao descobrir o véu sobre a principal referência, o próprio documentário assume-se como uma homenagem a Fanon, homem que sofreu as consequências inerentes ao pensamento de superiorização da raça branca imperialista sobre os negros. E é exatamente através desse mote que Lauryn Hill acompanha cada imagem com uma narração de palavras intensas: “National liberation, national renaissance, the restoration of nationhood to the people, commonwealth: whatever may be the headings used or the new formulas introduced, decolonization is always a violent phenomenon.” (“Libertação nacional, renascimento da nação, restabelecimento do território a quem ele pertence: quaisquer que sejam as novas fórmulas introduzidas, a descolonização é e será sempre um processo violento.”)

A passagem pelo território de Moçambique coincide com o ponto mais próximo da História de Portugal. Aí, as tropas portuguesas, apetrechadas de material bélico, combateram o movimento libertador FRELIMO, que pretendia a independência deste país africano. É no meio do combate que abala a normal dinâmica da floresta tropical, onde o verde que toma conta de uma paisagem virgem é “contaminado” pelo vermelho do sangue derramado e de membros mutilados. O realizador focou sempre as duas perspetivas das frentes reais de combate: uma lutando pelo seu território de origem, outra lutando pelo território que lhe disseram ser seu, ambos carne para canhão de um pensamento imperialista.

Após a sessão, no Espaço Maus Hábitos houve ainda a exibição de “Meifilmado”. Este é um projeto contextualizado no panorama da editora Meifumado, numa versão que junta excertos dos vários episódios da série “Meifilmado@Adelina Caravana”. O filme conta com as performances de artistas como Manel Cruz, Long Way To Alasca, Guta Naki, Orelha Negra, Paco Hunter ou Zany Dislexic Band, registadas em formato audiovisual por Alexandre Azinheira, André Tentúgal, Joana Areal, Paulo Zé Pimenta e Rita Barbosa.

A fechar a noite, Corona, Sam The Kid e Disca Riscos tiveram ainda espaço para concerto e para apresentar a sua seleção de discos, prolongando esta terceira noite do evento que continua a dar cartas no panorama da sétima arte na Invicta.

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