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Cultura

PORTO/POST/DOC: DA ALDEIA PARA O RIVOLI

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Por muito que o frio e a movida da cidade nas compras de Natal fizesse prever uma sala vazia, o quarto dia do Porto/Post/Doc começou pela surpresa no número de espectadores. O calor, a alegria e a “gente da aldeia” encheram o foyer do Rivoli.

O cenário estava em harmonia com o filme de João Pedro Plácido, “Volta À Terra”, que trouxe ao teatro a população de Uz. Após a passagem pelo DocLisboa, donde saiu vencedor, o diretor de fotografia que pela primeira vez assume o papel de realizador leva o espectador numa viagem até esta povoação isolada da Serra da Cabreira (Braga). Os Uz contam com quatro gerações e cerca de 50 pessoas. Os seus habitantes optaram pela vida rudimentar do campo, da agricultura, da pecuária e do pastoreio, em dicotomia com a modernidade atual de qualquer cidade. As personagens Daniela e Daniel estiveram presentes ao lado do realizador, prontos para ouvir a opinião do público e responder às perguntas do público. Relativamente a António, a personagem que não estava presente, o realizador referiu duma forma cordial: “ele também foi convidado, contudo disse-nos que não ia ser possível pois tinha muito trabalho para fazer. Provavelmente tinha ovelhas para pastorar ou vacas para ordenhar”. Num ambiente familiar de novos e velhos o público viu uma aldeia contente por se ver no ecrã, num filme que repete no próximo sábado, às 18h.

L’Abri”, de Fernand Melgar abriu a sessão das 18h (repete dia 10, às 21h30). A longa metragem convida o público um “abrigo” para sem-abridos, em Lausanne, na Suíça. Um filme inquietante, transparente, humano e desumano em simultaneo. Observa-se o modo como as pessoas do abrigo lhe dedicam a vida, mas também como as mesmas têm de ser insensíveis, quando têm nas mãos a decisão. Segurando destinos nas mãos, decidem quem são as últimas 3 pessoas que vão entrar e ter lugar para dormir.

Há velhos e novos, mulheres, crianças, homens, de todos os tons de pele e tamanhos. Na cidade do “Rolex” e onde um vencimento mínimo corresponde a um quarto, pessoas que mudaram de país para procurar melhores condições de vida nada encontraram. “O que vi aqui é desumano. Para não dormires na rua, passas duas horas ao frio, e tens de pagar cinco francos. Não tens meios para almoçar nem papéis para trabalhar. Sou sério e honesto, não quero pedir nem roubar, mas o sistema suíço não te quer aqui. Fazem de propósito para te desencorajar, para te levar a abandonar o país.”. O documentário acompanha um Inverno doloroso mostrando o dia-a-dia dos emigrantes que lutam para mudar a sua vida de dia e procuram o abrigo (cama, comida, banho e roupa lavada) à noite, que por vezes até o comparam a uma prisão. Mostrando também um sistema e pessoas com boas intenções, que acaba por se perder entre burocracias e leis, esquecendo que o assunto em causa se trata de seres humanos: “quantas noites se sobrevive a dormir na rua?”.

A finalizar a tarde de sessões a competição, “O Nosso Terrível País”, de Mohammad Ali Atassi e Ziad Homsi, acompanha o escritor Yassin Haj Saleh numa Síria em destroços e em plena guerra civil. Ao longo dos 85 minutos, a rota árdua e perigosa que percorre Damasco até Raqqa é palco de situações onde os direitos humanos são postos em causa, num percurso realizado por inúmeros sírios, que sentem forçados a deixar o país de origem para um exílio temporário na Turquia. O filme voltará a ser exibido no dia 10.

O Passos Manuel recebeu ainda Jazz Stew num DJ Set de culto e promoção ao jazz, orientando-o para a pista de dança. E que melhor forma senão esta de fechar uma noite de domingo?

 

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