Cultura
PORTO/POST/DOC: A GALIZA EM PORTUGAL
A competição voltou a tomar conta da abertura de um novo dia no Porto/Post/Doc. “Danger Dave”, uma longa-metragem de Philippe Petit, abriu a tarde no Rivoli. O realizador francês explora a vida do skater homónimo ao documentário, uma estrela em ascensão, cuja fragilidade do corpo o prende no limbo entre o sucesso e a queda numa espiral descendente sem fim.
Ainda no Pequeno Auditório do Teatro Rivoli, “As Cidades e as Trocas”, realizado por Luísa Homem e Pedro Pinho, convidou o espectador a embarcar na viagem de Rui. Tal como muitos marinheiros no mundo inteiro, a personagem é responsável por parte da silenciosa economia que toma conta do transporte de produtos entre vários continentes. Até que ponto a própria dinâmica de uma cidade é afetada por este constante fluxo de produtos?
No Teatro Passos Manuel lançou-se a primeira “Carta Branca” do dia a Lois Patiño. “Arraianos” mergulha no seio de uma comunidade fronteiriça entre a Galiza e o norte de Portugal. Numa mistura de ficção que se entrelaça entre os habitantes da aldeia e as suas vivências, focam-se temáticas como o tempo, a memória e o costume.
O retorno ao Rivoli deu-se com “Fog”, também inserido na competição. O documentário de Nicole Vogele é inundado por uma natureza estática mas bastante descritiva, em que o nevoeiro serve a metáfora para descobrir um mundo onde várias atividades se fundem na mesma unidade – a dinâmica do dia-a-dia. Ao longo de uma hora o espectador é confrontado com o quotidiano de pessoas como Mr. Borosch, o guitarrista cujas músicas falam sobre o amor que pretende encontrar um dia, ou Mr. Ruscher, dono de um carrossel de carrinhos de choque. A longa-metragem desemboca na revelação da raposa que entre o nevoeiro foge, deixando o espectador novamente a sós com o seu pensamento. Tal e qual o final de qualquer dia de pensamentos mergulhados em atividades.
“Costa da Morte” passou às 22h30 na sala do Passos Manuel. Lois Patiño, jovem cineasta e “videoasta” galego, é responsável no festival pela seleção dos filmes da secção CineFiesta. Patiño apresentou a sua primeira longa-metragem, estreada no Festival de Locarno 2013, onde venceu o prémio para Melhor Realizador Emergente.
O filme é um retrato antropológico e poético da região costeira da Galiza, assim eternizada pelo trágico historial de naufrágios, o fim do mundo na era romana. Através de planos fixos e largos, composições impressionantes, o Homem e seus artifícios são mostrados na sua verdadeira escala face à imensidão da paisagem em que montanha e floresta são mar também. Mas contrastando com a distância das imagens, a voz do Homem, que traz as vivências e as lendas é próxima, quase íntima. Aí está a grande originalidade do filme, rompendo a coincidência destas duas dimensões rumo à unidade da Costa da Morte.
O realizador estará ainda presente num masterclass de entrada livre organizado pela Campus, na próxima quinta-feira, 11 de dezembro às 18:00, no Instituto Politécnico do Porto. Quem não teve oportunidade de ver o filme ou o pretender rever poderá fazer-lo em duas sessões a realizar domingo, 14 de dezembro, às 16:00 e 21:45 no Teatro Municipal de Vila do Conde.
Seguidamente houve ainda a exibição de “Future Sounds Of Mzansi”, por Spoek Mathambo e Lebo Rasethaba, documentário que ilustra a fusão da música eletrónica à cultura popular na África do Sul, retratando as festas de groove que neste país ocorrem.
Para terminar a noite, Senhor Guimarães premiou os resistentes com um DJ Set.