Cultura

PERSONA: O DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

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O sétimo dia do Porto/Post/Doc voltou a receber três obras a concurso. Para além “Waiting For August” e “L’Abri”, que já tinham passado pelo grande ecrã do festival, o Rivoli recebeu “Our Terrible Country”. O filme de Mohammad Ali Atassi e Ziad Homsi acompanha uma síria transformada pela guerra. Realça-se a atualidade emergente da situação geopolítica do local e a pertinência do trabalho dos realizadores para, de facto, contribuir na divulgação transparente de temáticas. A guerra civil síria dada a conhecer neste documentário pelos que a vivem.

Stranded in Canton”, de Måns Månsson, foi a Carta Branca do dia. O documentário aborda a viagem de Lebrun até Guangzhou para comprar t-shirts para uma campanha presidencial do Congo. No entanto, a mercadoria sofre um desvio e o personagem fica sem dinheiro e sem passaporte. Destaca-se a brilhante visão da realizadora sueca, ao explorar um personagem fictício num ambiente real, de forma a dar a conhecer a nova e fascinante relação que surgiu entre a África e a China.

Ainda englobado na secção Persona, o documentário “Father and Sons” foi exibido no Grande Auditório do Rivoli. Tendo arrecadado o Grande Prémio Cidade de Lisboa para a melhor longa-metragem no docLisboa, o filme chinês de Wang Bing retrata a precariedade material e humano. O cenário é uma casa sem condições, onde os cães dormem junto das crianças, num quarto/casa onde há sacos pendurados nas paredes e apenas um cobertor para os dois irmãos. Contudo, entre ações e planos demorados, a ruidosa televisão e a constante atenção ao telemóvel, complementam a falta de condições físicas, com a pobreza de espírito.

Dreamocracy” foi a longa-metragem selecionada para iniciar a noite nesse mesmo auditório. No local, as realizadoras Raquel Freire e Valérie Mitteaux explicaram brevemente a sua motivação para a execução do documentário português. A longa acompanha as manifestações de 12 de Março de 2011, onde viria a surgir a “Geração à Rasca”. Os organizadores Pedro e João decidiram então insurgir-se no lançamento do projeto “Escola de Cidadania”, com o objetivo de tocar nas mentalidades do povo. Através da tentativa-erro, da perseverança e da vontade de acreditar numa sociedade autossustentável, os dois lideram com a inexperiência própria da juventude e, acima de tudo, aprendendo de que modo é possível fazer o sistema ouvir a sua voz.

A história de Pedro e João motivou um debate sobre o seu conteúdo. Na mesa, estiveram presentes além dos dois “atores”, as próprias realizadoras e José António Pinto, conhecido por Chalana, a voz do mundo pobre do Lagarteiro, em Campanhã.

Não sendo a precaridade um tema suscetível de esgotar, no Teatro Passos Manuel passava simultaneamente “Acima das Nossas Possibilidades”, de Pedro Neves, outro português. Este insere o paradoxo exposto no próprio título, ao convidar o espectador a descobrir aqueles que vivem abaixo das suas possibilidades e ainda assim estão vivos para contar a sua história. A qual podia ser no terceiro mundo, mas passa-se mesmo aqui ao lado.

Franco Maresco conta em “Berlluscone. Una Storia Sicilliana” as derrotas de uma Itália dominada por Berlusconi e pela cultura “berlusconiana”. Através do seu peculiar modo de interação com o espectador e com as próprias personagens, é dada a conhecer também a influência de Ciccio Mirra, um siciliano apoiante incondicional do ex-primeiro ministro.

Na ilha mediterrânica, a vida corre como sempre correu: a Máfia sobre o Estado, a Máfia no Estado, o Estado na Máfia. A influência de poder cruza-se com a vida outrora esquecida de Berlusconi, que nem o próprio Franco conseguiu descobrir. Ciccio tudo sabe, mas Ciccio nada diz, transformando assim as suas palavras e expressões em autênticas gargalhadas por parte do público, no qual se inclui o próprio Paulo Cunha e Silva. Não que Ciccio se importe, porque afinal continua a ter o poder máximo de um qualquer padrinho sobre essa grande indústria que é a música neossiciliana. Ou, como em bom português se diz, música pimba. Até que profundidade se entranha na velha Itália este polvo desatualizado que relembra os negócios paralelos eternizados no grande ecrã por Francis Ford Coppola, mas numa versão cómica?

A noite teve o seu término com o DJ Set de Sérgio Gomes, também ele parte do staff do festival, no Teatro Passos Manuel.

 

 

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