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Cultura

ST VINCENT – ST VINCENT

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Apertem os cintos e/ou relaxem nas vossas cadeiras: o novo álbum de St Vincent vai levar-nos a outro planeta. E podemos começar pelo próprio cabelo em formato de nuvem da cantora, que faz adivinhar tal destino e artista de inspiração irreverente. Mais confiante e arrojado que os seus trabalhos anteriores e ainda oferecendo resquícios inspiracionais da colaboração recente com David Byrne, St. Vincent apresenta-nos 11 admiráveis canções que parecem balancear-se permanentemente sob uma linha ténue entre a alegria e a tristeza iminente.

Homonimamente nomeado pela artista e alter-ego de Annie Clark, St Vincent reflete o seu estilo musical pouco ortodoxo que mistura influências pop, indie-rock e jazz. É Annie quem identifica a razão pela escolha homónima do título deste seu já quinto trabalho: “Estava a ler a autobiografia de Miles Davis, onde ele dizia que a coisa mais difícil para qualquer músico é soar a si mesmo”. Nesse sentido, o título reflete essa harmonia do disco com ela própria e foi, por isso, a escolha perfeita para o nomear.

O álbum apresenta uma capacidade de, de uma forma aparentemente desprendida, revelar o que há de sinistro no mundo moderno e tecnológico, moldado à luz dos social media. Digital Witness, por exemplo, a número cinco do disco, é uma sátira evidente à era digital em que tudo é “instagramizado” efusivamente online, como se o facto de não nos exibirmos implicasse a nossa não-existência. “What’s the point of even sleeping / If I can’t show it if you can’t see me / What’s the point of doing anything?” canta, ironicamente. Existe na verdade uma obsessão tecnológica que percorre todo o seu novo trabalho: “somos todos um pouco dependentes da tecnologia — ou talvez esteja apenas a falar de mim”, acaba por desabafar Clark, que se confessa depois uma “nerd” da tecnologia.

O álbum é sexy na sua complexidade e denso de um imaginário muito próprio; sobre ele, Clark referiu-se dizendo que queria fazer um álbum festivo que pudesse ser tocado num funeral. É por isso um pouco esquizofrénico, na medida em que tem momentos explosivos – mas de uma explosão mais infantil do que madura e dorida – mas também momentos de apaziguamento e calma. “Several crossed fingers” é a música de fim de álbum perfeita, uma balada que revela a sua fragilidade e esperança de que melhores dias virão. No seu conjunto, St Vincent ambiciona simplesmente fazer-nos dançar.

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