Cultura
POESIA, DISCOS E MÁQUINAS DE IMPRESSÃO
A tarde no Museu Nacional da Imprensa (MNI) começou pelas 15h, com uma visita conduzida pelo diretor do museu, Luís Humberto Marcos, à exposição inaugurada este sábado (21). Intitulada “Poesia em Rotação”, a exposição conta com mais de 200 capas de discos em vinil e reúne nomes de poetas nacionais e internacionais, como Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Pablo Neruda, Mário Cesariny, Sylvia Plath, Victor Hugo, Vinicius de Moraes e muitos outros.
Os poemas podem ser ouvidos nas vozes dos próprios autores ou nas de diversas personalidades, como Armando Cortez, Eunice Muñoz, João Villaret e Ruy de Carvalho.
Luís Humberto Marcos acrescentou que toda a coleção demorou cerca de 3 meses a ser reunida e adiantou que um acervo das obras em formato digital está a ser criado. O diretor do MNI explicou que “os visitantes vão ter acesso a uma biblioteca digital e vão poder selecionar quais os poemas que querem ouvir”.
Paralelamente a esta exposição, encontra-se também em exibição uma exposição de cartoons, destacando várias capas do jornal parisiense Charlie Hebdo e homenageando um dos cartoonistas assassinados no atentado, George Wolinski, que em 2007 foi Presidente do júri no IX Porto Cartoon.
O concurso que tinha como objetivo “descobrir novos talentos e premiar a arte de bem dizer poesia” contou na sua primeira edição com 23 concorrentes, “um número surpreendente”, segundo o diretor do MNI. Os participantes da Maratona Poética podiam ler poemas da sua autoria ou então de autores conhecidos. Álvaro de Campos, José Régio e Sophia de Mello Breyer Andresen foram os poetas de eleição.
Os concorrentes desta iniciativa apresentaram estilos muito diferentes: dos mais contidos e emotivos, aos que gesticulavam e se exaltavam. Diversificadas foram também as faixas etárias destes – desde crianças a idosos, todos tiveram lugar na estreia desta iniciativa, que se “espera que se repita”, segundo Luís Humberto Marcos.
Enquanto a Maratona Poética decorria, os visitantes do MNI tiveram a oportunidade de imprimir, “qual Gutenberg”, textos poéticos. As prensas móveis estiverem à disposição de todos para que pudessem levar como recordação um poema impresso por si.
No fim do Dia Mundial da Poesia, distribuídos os prémios e menções honrosas referentes ao concurso, houve ainda tempo para uma curta entrevista com um dos jurados, Arnaldo Saraiva, poeta e ensaísta português.
Qual é a importância da celebração deste dia? E da poesia no mundo?
“A poesia não é tão rara como parece, no mais íntimo das coisas a poesia acontece. “ Quer dizer que a poesia está tao perto de nós que nós julgamos que é uma exceção quando devia ser a regra. E o mundo, Portugal e outros países estão horrorosamente prosaicos. A poesia é um instrumento fabuloso para nos libertarmos do real pesado, para estimular a imaginação criativa, ou para estimular a criação, porque a coisa mais bela do mundo é a criação.
Porque é que a poesia tem direito a uma data de celebração?
Porque a poesia não é nada e é tudo. Isto é, a poesia são palavras. Há poesia metaforicamente da paisagem, poesia da música, poesia das artes, mas a poesia que falamos é a da linguagem. E a linguagem é um instrumento de salvação, também de perda, mas é um instrumento de salvação.
Assistimos à declamação de poemas por parte de vários jovens. Existe uma ligação entre poesia e ser jovem?
Olhe, eu aprendi poesia desde que comecei a falar. Há quem diga até que a criação da linguagem é uma criação poética. A invenção da linguagem, que é o instrumento mais fabuloso da humanidade, é uma criação poética. E nós achamos que é poética a fala das crianças, as primeiras frases ou as primeiras invenções que eles fazem. E, portanto, desde o berço que se deveria estimular a relação das pessoas com a poesia porque seria uma maneira de também as ajudar a viver.