Cultura

RODRIGO LEÃO – A MÚSICA NA MÁQUINA

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Terão sido sons como o das gruas em Lisboa e o de uma instalação elétrica defeituosa em Goa, gravado com um iPhone numa viagem, que começaram por inspirar o projeto do novo álbum de Rodrigo Leão, A Vida Secreta das Máquinas – lançado no início do mês de Março e apresentado na Casa da Música, com sala praticamente cheia.

A vídeo-projeção que acompanhou o concerto, totalmente instrumental, não deixa dúvidas sobre o universo explorado desta vez pelo autor – os primeiros acordes são acompanhados pela ilustração do mecanismo de rodas dentadas, que dará depois lugar a imagens-arquivo de várias fábricas. A complexidade cresce e são muitas as máquinas e muitos os movimentos, de pistões a fusíveis, cadeias de produção, ponteiros, roldanas – muitas as vidas, portanto, que ao serem libertadas dos instrumentos eram evidenciadas pelo excelente trabalho de iluminação e fumo, criando formas, personagens entre os músicos, ambientes, agigantando sombras nas paredes.

Numa surpreendente aproximação ao universo eletrónico, Rodrigo Leão fez-se acompanhar em palco de um quarteto de cordas e de Marco Alves, no trombone, e João Eutério, nos sintetizadores.

Este concerto, e o do dia seguinte em Lisboa, inauguram a primeira edição do Ciclo Classic Waves, que decorrerá entre Março e Junho no CCB, em Lisboa, e na Casa da Música, no Porto, e que pretende explorar exatamente a aproximação da música erudita a sons mais inovadores, frequentemente eletrónicos, dedicando-se ao universo que é designado internacionalmente por Modern Classics. Contará, entre outros, com concertos de Wim Mertens, Rui Massena e Danças Ocultas.

As músicas foram inicialmente compostas para o Festival Lisb/On que decorreu e a sua sonoridade lembra tanto Brian Eno como Alain Goraguer. Mas o precioso regresso aos Madredeus, banda da qual fez parte, com a inclusão do tema As Ilhas dos Açores, e ao seu conhecido tema Alma Mater, ambos muito celebrados pelo público, mostram, postos assim em contínuo com as novas músicas que parecem tão díspares do seu anterior trabalho, como os traços sublimes de Rodrigo Leão se mantêm e tão bem souberam guiar esta inovadora viagem.

 

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