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Cultura

SPRING ON! – A COLHEITA DO JAZZ QUE CULTIVAMOS

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11270086_10204216349752029_737322087_nO Spring On! é um projecto que permite dar a conhecer jovens músicos europeus de um Jazz menos recatado, moderno, senhor de uma grande liberdade e abertura. Seis propostas dinâmicas rodaram nos três dias do festival, que contou com um público maior em comparação com a edição anterior. Os primeiros a subir ao palco no dia 9 foram os Auditive Connection, um quarteto francês de abordagem pouco convencional.

A sua prestação pode ser resumida com um dos momentos peculiares que eles nos ofereceram: após um devaneio solista do violoncelo, este é encorpado com uma reverberação mecânica, e enquanto que baterista fornece batimentos inquietos, a cantora, em cima de acordes grosseiros, modula a voz com recurso a um pequeno processador e ao eclectismo das suas cordas vocais até se tornar o reflexo de Mercedes McCambridge: o grupo recriou sonoramente um exorcismo, e fê-lo com uma naturalidade possuída.

Esta imagem não pretende destacar um apetite por cultos negros, mas antes a vontade que o conjunto têm de canalizar energia para o palco e, mais importante, de se exprimirem, de se evacuarem em sons e ideias. A música não é o seu recurso único: há interações com posições corporais expressivas, declama-se Samuel Beckett e Paul Éluard, enfim, somatizam-se e não pagam pela terapia. Num concerto enérgico e recheado de momentos insólitos, trazem às costas uma irreverência que lhes é extremamente identitária.

Os Auditive Connection não têm género musical, e essa nomenclatura não lhes é importante. Com a sua dependência por manifestações musicais e sobre-musicais, ultrapassam as barreiras de qualquer género. De facto, ultrapassam as barreiras da própria música. Estes são intérpretes de uma expressão mais humana, que nos é muito mais nuclear. E como foi um prazer dissecá-la na sala 2 da Casa da Música.

Seguiu-se o contrabaixista João Paulo Rosado, acompanhado por um quarteto para tocar o jazz jovial e tranquilo do seu projeto Sinopse, de atitude mais direta que o projeto anterior. Os temas, todos originais, são simples e com conteúdo, desdobrando-se em longas improvisações individuais onde os restantes instrumentistas acrescentam os seus “cheirinhos”. O piano conferia texturas ritmadas, a guitarra lançava efeitos atmosféricos, a secção rítmica, invisivelmente coesa, segurava a estrutura.

Mas por mais simpáticos que fossem alguns dos temas, como Barbante ou Chester, o que ficou retido foi a intimidade partilhada pelos músicos, amigos ao mesmo tempo que intérpretes, e que não têm problemas em dispensá-la para o público. Resumem-se assim os alicerces altruístas do género. O que ouvimos hoje é moderno e senhor de uma liberdade que sintetiza todos os artistas e energia deste festival.

O Spring On!, mediante ao que se propõem, cumpre-o com distinção. E tendo em conta os comentários do público, o seu enquadramento no mercado de concertos e a sua postura, é por si só uma aposta ganha.

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