Cultura

EARTH: CAMINHAMOS COM A TERRA, LENTAMENTE

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Foi com uns simpáticos Ermo como banda sonora e com confetti de confirmações – Metz e Gnaw Their Tongues juntam-se ao cartaz do Amplifest 15 – que se iniciaram as celebrações de Earth. Os percursores do género (aliás, sonoridade) drone metal voltaram a Portugal, passada uma larga pausa, para saciar a fome de quem presta culto às suas planícies de distorção. O concerto, assistido por uma Sala 2 (Hard Club) substancialmente preenchida, abriu com There Is a Serpent Coming do último registo, Primitive and Deadly.

É interessante ver como a música deste trio (guitarrista, baixista e baterista pisaram o palco) demora tempo a se evaporar dos respectivos instrumentos. Mas não se iludam as almas mais ingénuas, crentes que esta música, carregada por uma pulsação folgada, seja assim mais fácil. O timbre da guitarra, tocado e retocado por pedais e efeitos, mais a postura dos músicos, sabedores meticulosos do seu papel nas peças, transparecem a experiência desta banda, absorvida gradualmente ao longo dos concertos e da prática.

Algo de estranho acontece quando o tempo da Música decresce, e os Earth, seguindo uma tradição que vem (porventura) dos Black Sabbath, sabem o quê. É com prazer que ouvimos as suas compassadas repetições de riffs, no que parece ser uma tentativa de criar, sonicamente, um mantra eléctrico. Outra coisa interessante é perceber como eles dão pouco ênfase ao ritmo e às suas acentuações, numa direção oposta ao doom, onde o tempo é lento mas vincado. A bateria mantém a pulsação ao de leve, indo quase todo o espaço de cena para a expressão da guitarra.

O que é relevante aqui é perceber o quão independentes estes senhores são das cábulas do rock (vocais protagonistas, secções rítmicas pujantes, um solo a rematar entre o refrão e a próxima bridge) em prol do seu estilo. Eles pegam na linguagem e na energia do género para fazer algo que é distinto. O fluxo que se transmite do palco para o público é da mesma natureza, mas só na base. O resto da música é da responsabilidade de quem a ouve, pois ela não fala somente por si.

Antes do encore, ainda se ouvi High Command, caracterizada por uma atitude mais stoner. Esta não soube a mais do que um digestivo para toda a experiência que a antecedeu: uma cerimónia paciente e discreta, missada por um guitarrista que já parece ter vivido centenas de anos.

Os Earth, ausentados de vocais mas também de auxiliares de leitura, requerem alguma abstração. Pode não ser mais do que a sua forma básica, mas ela está lá, nas conclusões a serem retiradas das suas grandiosas cadências. E o público, sem dar por ela, abanando sincronizadamente a cabeça num metrónomo humano, faz esse exercício, rendido.

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