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Cultura

NUNO BRITO: BEBER A LUZ DE MAIS PERTO

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Na plateia, entre amigos e familiares do autor, encontravam-se o vereador da Cultura da Câmara Municipal do Porto, o Dr. Paulo Cunha e Silva, e o conceituado Prof. Dr. Arnaldo Saraiva, presença constante no percurso literário de Brito.

No centro desta tertúlia várias questões foram colocadas entre as quais destacamos três: a dificuldade de categorização da produção literária de Brito, a influência de outros autores na sua obra e, por fim, qual a pergunta e resposta que nunca lhe fizeram e que gostaria que lhe tivessem feito.

Sobre a dificuldade de categorização: será Nuno Brito um poeta? Um contista? Um narrador? Um prosador poético? Em que estante das livrarias deverá Brito, de estatura esguia e alta, constar? Nuno Gomes, seu editor, parodia sobre esta questão e oferece a garantia de que o poderemos encontrar na secção de contos, muito embora, tenha havido, num tempo próximo, a ideia de que talvez se encaixasse melhor na secção de poesia.

Com efeito, a obra de Nuno Brito poderia fragmentar-se por diferentes prateleiras mediante o juízo do livreiro. A forma literária diluísse entre o verso e a frase. Entre um poema abruptamente decepado e seguido por um parágrafo de inegável consistência narrativa e, o sobressalto, o inexplicável de uma única palavra que revela uma nova corporalidade na orgânica textual que, até aquele instante, nos parecia sugerir um fim espectável.

Nuno Brito não é o que se espera. Diz-se: «filho do seu tempo»; historiador por formação académica, Brito saberá que este é o tempo em que a própria História, ao debruçar-se sobre si, se rotula mas dificilmente se define. O escritor é, na pós-modernidade, indefinível, à semelhança de qualquer outro artista. Consequentemente qualquer aproximação à tentativa de significação apenas se apresenta possível através da negação. O homem pós-moderno é o homem que se define pelo que não é. E este «não é» como uma linha recta numa época organicamente curvilínea. Em que géneros se misturam e superfícies se desvanecem, recordando Van Gogh acerca da arte: «Eu quis exprimir na arte algo da luta pela vida. As árvores, açoitadas pelo vento, estavam magníficas, em cada uma havia uma figura, quero dizer, em cada uma um drama […]»; questionado sobre a persistência dos elementos quotidianos na sua obra, Brito esclarece: «o quotidiano existe apenas na medida em que se fixa a imagem em que o mesmo se transcende, se transforma.» Aqui o drama, à falta de árvores, encontra razão nas estrelas, em constelações que, por debaixo da pele, ponteiam de luz o corpo.

Ao ouvir alguns dos nomes citados por Brito como Nuno Moura, Rui Pires Cabral e Manuel de Freitas, não podemos deixar, uma vez mais, de repensar a actualidade literária portuguesa como um jogo malabarismos. Rui Pires Cabral alia poemas a colagens numa genial partida entre as artes plásticas e a poesia; Manuel de Freitas, poeta, ensaísta, tradutor, escreve também fragmentos; outro dos autores referidos por Nuno Brito é chamado de poeta e nunca escreveu ou publicou um poema. É o tempo dos novos «Salões dos Recusados» em que a recusa dá lugar ao incatalogável. Mais, a influência que o academismo literário uniu ao sentido da angústia é, neste contexto, dialogante e não opressora. A questão que gostaria que Maria Bochicchio lhe tivesse feito era: «O que espera da vida?». À pergunta, Brito responderia: «ser feliz», o que na prática consistiria em estar rodeado pela família, amigos e pela escrita. Por fim, como «homem do seu tempo» disse: «E, como a Miss Universo: gostaria de um mundo melhor.».

Nuno Brito nunca foi alvo de recensão literária em qualquer um dos suplementos culturais nacionais. Nuno Brito nunca recebeu uma, duas, três, quatro ou cinco estrelas vermelhas de um crítico literário. Apenas uma frase: «Você fulgura, caramba!» com que Herberto Hélder terminou a primeira carta que escreveu a Nuno Brito.

 

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