Cultura
MIGUEL GOMES FOI ESTRELA NO ARRAQUE DO CURTAS
No programa de mais de 200 filmes do Curtas, a obra de Miguel Gomes fez longas filas de espera e esgotou as salas do Teatro Municipal de Vila do Conde. O público que aguardava por As Mil e Uma Noites, entre burburinhos sobre Cannes e cinema português, foi agraciado com a presença de equipa e elenco dos três volumes que têm maravilhado os críticos internacionais.
Fiel ao seu trabalho, à introdução de Miguel Gomes não faltou humor. O realizador sublinhou a importância de estrear este filme em Portugal através do festival que o acolheu no início de carreira e assegurou estar disposto a receber críticas no final – “Quase ninguém aqui viu o filme. Se depois me quiserem insultar, estou à saída.”
No entanto, a passagem de As Mil e Uma Noites por Vila do Conde não deu azo a comentários negativos. Fortes ovações dum público que não se cansou de tecer elogios ao trabalho do realizador português marcaram as três sessões.
O ponto alto do festival para os mais pequenos passou pela estreia nacional de A Ovelha Choné O Filme na abertura do Curtinhas.
Wrong Cops foi a película escolhida para o arranque do programa In Focus deste ano, que tem como protagonista Quentin Dupieux, músico, produtor e realizador francês.
A estas longas-metragens juntaram-se as curtas do programa Short Matters e não faltaram boas demonstrações holandesas no Panorama Europeu. A Competição Internacional teve início com filmes de Rok Predin (Reino Unido), Erin Vassilopoulos (EUA), Andrei Cretulescu (Roménia) e David Sandberg (Suécia).
A popularidade de As Mil e Uma Noites foi complementada com a atuação de Frankie Chavez e João Correia na abertura do programa Stereo, secção do festival que combina o cinema e a música através de filmes-concerto.
A dupla uniu forças para a sonoplastia de The Good Bad Man realizado por Allan Dwan. Um filme original mudo do ano de 1923 (a versão apresentada diz respeito a um restauro da película original). Um drama, uma história de amor, mas principalmente um western.
Por entre o dedilhar da guitarra e o som das vassouras na bateria, “De Passagem” interpretado por Douglas Fairbanks (um dos atores mais importantes do cinema mudo), apresenta-se como um bandido órfão e bom (o que justifica o título). Apaixona-se por Amy (Bessie Love) e desvenda o mistério acerca dos seus pais. Sam De Grasse, no papel de “O Lobo”, é o principal problema da personagem principal. Matou o seu pai, algo que este só descobriu através da conversa com Bob Evans (Doc Cannon) após captura.
O som do pó que levanta com a passagem dos cavalos; a sonoridade das balas dos tiroteios característicos deste género de filme; as pessoas que dançam ao ritmo da música como se nada estivesse a acontecer; os planos fotográficos e cenas românticas entre as duas personagens; a confusão em cena e o movimento constante da ação, aliados à música de influência western criada pelo dueto (tal qual Ennio Morricone), abrem com chave de ouro este outro lado do Curtas que segundo Mário Micaelo “podia quase ser um festival dentro de outro festival”.
Dois dias que principiaram um dos mais importantes festivais portugueses dedicados à sétima arte. O Curtas aparenta prometer uma das melhores edições de sempre e permanecerá por Vila do Conde até Domingo, dia 12 de julho.