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Cultura

TESOUROS DA FOTOGRAFIA PORTUGUESA DO SÉC. XIX

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Como nos é logo dado a saber pelo Vereador da Cultura, Dr. Paulo Cunha e Silva: «A pertinência de apresentarmos este projecto neste espaço, em 2015, não poderia, por isso, ser maior, como testemunham alguns dos tesouros desta exposição. Comemoram-se este ano os 150 anos da inauguração do emblemático e hoje mítico Palácio de Cristal (…)». Embora nos pareça da maior relevância a assinalação de tal data comemorativa esperamos que até final de 2015, iniciativas mais precisas sobre a efeméride sejam concretizadas pelo Pelouro da Cultura. Tratando-se de um edifício de inegável importância para a História da Cidade, nada menos se deve esperar do que uma exímia monografia histórica sobre o «nascimento» e «debaste» do edifício.

Tendo por curadoras a Dra. Emília Tavares e a Dra. Margarida Medeiros, é com algum pesar que nos vemos obrigados a salientar os defeitos na montagem da exposição. O direcionamento negligente das luzes, incidindo diretamente sobre os vidros das molduras que suportam as fotografias, afeta a sua visibilidade. Mas, se tal afecta, a colocação, incompreensível do ponto de vista lógico, das fotografias em elevadas alturas, impossibilita de todo a sua contemplação. Olhando o conjunto dos vários núcleos temáticos, fica-se com a sensação que a estética da exposição se sobrepôs à funcionalidade da mesma: ora de pouco serve que as fotografias estejam dispostas numa forma interessante se a mesma torna difícil e, em vários casos, impossível observá-las. O mesmo se aplica as legendas colocadas a grandes alturas e usando de um tamanho de letra mínimo tornando-as ilegíveis. Evidentemente, tais factos não retiram a importância da exposição mas limitam em muito a experiência do observador.

A exposição inicia-se com um auto-retrato de João Francisco Camacho (1833-1898), datada de 1863, em albumina; seguem-se as vistas panorâmicas de Lisboa e Funchal; fotografias de acontecimentos, como é exemplo: «Tourada» de Aurélio Paz, a Recepção à chegada de Lisboa da Rainha D.ª Estefânia, por Amedée Ternant, em albumina (18 de Maio de 1858), ou «O Incêndio do Teatro Baquet. Porto» por Joaquim Bastos; seguem-se alguns retratos dos quais salientamos «Cleyde Cinnatti» de Alfredo Keil (1850-1907) tirada em 1873 e um outro estudo para pintura «leitura interrompida», do mesmo autor e do mesmo ano, um retrato de grupo com a presença de Marques de Oliveira e os seus alunos de Belas-Artes, incluindo Aurélia e Sofia Sousa, é digno de atenção, sendo a sua autoria atribuída a «Foto Medina» datando de 1893-1898. Por último, um retrato de Guerra Junqueiro, feito por Arnaldo Ferreira (1868-1940), de 1900 e o de D.ª Maria Pia envergando traje de gala e manto, de Augusto Bobone (1852-1910), 1886; seguidamente, várias fotografias mostram o Levantamento de Caminhos-de-ferro, feito por Emílio Biel para nas três finais categorias encontrarmos a fotografia na sua aplicação científica, patrimonial e artística.

É nossa opinião que a secção mais interessante da exposição é aquela que se inicia com a amostragem de máquinas fotográficas antigas: uma câmara de campo, de Frederick James Cox (1890); câmara estereoscópica, de Thomas Ross & Co (1850); câmara tipo carte-de-visite, sem construtor identificado e datando de 1870. E, por fim, a câmara Daguerreana estilo sliding box, também sem construtor identificado (1845).

A exposição tem ainda à espera do seu digníssimo visitante duas salas: na primeira, poderá ver fotografias de Joaquim Possidónio Narciso da Silva e, mais interessante, as de Frederick William Flowers (1815-1889), de quem na crónica anterior – Porto Britânico – falamos, e que foi um entusiasta do calótipo, deixando uma vista do Porto onde ainda se vê a Ponte Pênsil (1849-1859); outra, da Rua Nova e Rua do Ferraz com vista para a Torre dos Clérigos; do Porto, Paço Episcopal e Virtudes; e, por último, talvez a mais bela: «Vista do Porto a partir do monte Cavado. Vila Nova de Gaia» (1849-1859), onde ainda é possível ver aportados vários navios no cais da Ribeira.

A segunda sala, a que mais nos entusiasmou, dedicada ao Daguerreótipo, contém cinco retratos: primeiramente, João Baptista Ribeiro em auto-retrato; Retrato de grupo (Manuel José Carneiro, João Baptista Ribeiro, Guilherme Correia e António José de Sousa Azevedo) da autoria de João Baptista Ribeiro (1854); um retrato de homem atribuído a Miguel Novais (1850-1854); Retrato de Luís Barbosa de Pinho Lousada (1850-1855) em daguerreótipo colorido; Wenceslau Cifka, s.t.; e, por fim, cedido pela Biblioteca Pública Municipal do Porto, o Retrato de Alexandre Herculano feito por João Baptista Ribeiro em 1854.

Chegados ao fim da exposição, chamamos a atenção para os vários expositores, em especial para o terceiro onde poderão ver álbuns de fotografia (cartes-de-visite, cabinet, etc) o mais antigo de 1850.

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