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Cultura

DOS ABORÍGENES AUSTRALIANOS À LARANJA ALGARVIA – UMA VIAGEM A BORDO DO DIDGERIDOO!

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(Mandam as regras dos bons costumes jornalísticos que uma reportagem seja feita na terceira pessoa e tão imparcialmente quanto possível. Porém, aqui sentadinho – ainda! – no Intercidades, ao fim de sete horas de viagem, depois de quatro dias naquele pequeno Éden… não, tal não poderá ser cumprido! Ides ter que me desculpar a rebeldia.)

Porto-Algarve fez-se bem (quanto mais não seja porque o carrito não se avariou pelo caminho). Não se chegou foi a horas de ver os dois concertos dos Portugueses Tomás Carro e João Jardim, por isso não me perguntem como foram; nem tampouco de comprar o passe geral. Ou seja, toca a “dormir” ao relento, debaixo de uma alfarrobeira, que me agrediu várias vezes durante a noite, arremessando-me com os seus frutos, num quintalório de um barracão abandonado. No entanto, através de um suborno (um fino) foi-nos autorizada a entrada no recinto para assistir à Jam Session e começar a entender que tínhamos entrado num bom estranho Mundo! O que não foi possível foi encontrar alguém que me emprestasse pasta dos dentes – que juntamente com a almofada constituem os clássicos esquecimentos.

Nasceu um novo dia; deixei-me preguiçar umas horas e lá peguei nas minhas olheiras para ir comprar a pulseira. Não foi preciso muito tempo para concluir definitivamente que tinha aterrado numa utopia – cheia de gente nua, simpáticas jams ao virar de cada esquina, que iam inchando aos poucos, com mais músicos e instrumentos do arco-da-velha, e onde todos, vindos de uma vasta gama de países, se tratavam com um fantástico e expansivo afecto. A harmonizar ainda mais o ambiente tínhamos barracas de comida, essencialmente vegetariana, tendas de massagem e bancas onde artesãos vendiam as suas peças suis generis nascidas das suas mãos com muita dedicação. Aura mais familiar era impossível.

Por volta das 20:30 começavam os concertos do cartaz, e neste segundo dia de festival foi a vez dos Turbodzen, duo Russo, nos surpreenderem com os seus dotes magistrais de berimbau de boca. A fim de descer ainda mais os queixos da audiência, vieram os Transmongolia; nome bem dado, porque “transcendental” é o adjectivo certo para as técnicas de canto tradicionais da Mongólia, que aliás nos fazem questionar: Mas afinal o que é que não é possível fazer com a voz?

No que toca a partir a louça toda, nada como a boa disposição italiana e, para tratar desse assunto, pudemos contar com os Ab Origine! Vejam lá: enquanto andava ali às voltas a tirar fotografias meti conversa com o tipo que claramente era o macho alfa dali, no que tocava a material fotográfico, perguntando-lhe se era o fotógrafo oficial do evento, e fui descobrir um antigo colaborador do JUP, de há 16 anos atrás!

Não se fique a pensar que durante o dia era só andar ali a aplicar tratamentos de argila na pele, nadar (sem roupa) na lagoa, coiso e tal… Não! Para os que conseguiam acordar depois daquelas noites de malhas e cantos exotéricos sem fim, havia toda uma série de workshops – de danças Africanas, de djambé, handpan (o mesmo que hang drum) e, claro, didgeridoo, mas também de Qi Gong e Ba Duan Jin (duas práticas com raízes na medicina Chinesa) e ainda de introdução à permacultura e tecelagem vegetal! No meio de tudo isto aventurei-me a fazer as minhas primeiras três entrevistas (extremamente mal feitas por sinal) que aqui [inserir link com as entrevistas] vos deixo.

No terceiro dia a abordagem musical foi mais calma, assim a puxar para o introspectivo. Para nos massajar o pavilhão auditivo tivemos a companhia de Sage (da Rússia, novamente), Kabeção & Mayuko (de Portugal e França, respectivamente; ambos sublimes no handpan), Dubravko Lapain (da Croácia, reincidente no FATT) e, para terminar em glória e com muita dança, veio de Espanha um batalhão de loucos músicos, de seu nome Muscaria Psico Waves! E o meu irmão ia suspirando: Ah, este é o melhor festival de Portugal!…

O som dos tambores ainda ecoava pelo ar (recheado de mosquitos que haviam devorado os campistas durante a noite passada), no último dia, conquanto com uma certa timidez, fruto do cansaço e daquela saudade de hora da despedida. Num casebre de um velho moinho pôde-se ver um documentário de Joshua Bell: “A Vida Aborígene Australiana”, cujo título é bastante esclarecedor do tema da obra. Tive também a oportunidade de ouvir uma última vez o Bolero de Ravel em mais uma improvisação da malta; e prometo que não chorei.

Por fim, queria contar-vos, comovidíssimo, que me meti num comboio do qual era suposto fazer um transbordo para um alfa que me traria directo de volta, mas os bilhetes esgotaram. Depois não consegui sair, por causa das malas, em Albufeira, onde residia a melhor solução, uma camioneta qualquer… Fui, portanto, parar a Loulé… ah!, nada com uma boa visita aleatória à velha tia Anica! Resultado: mais de nove horas de viagem, a contar; de modo que, se me dão licença, agradecia que me não incomodassem mais e me deixassem ir beber um carioca à carruagem-bar, a ver se durmo que nem uma alfarroba o resto da Viagem!… Beijos!

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