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Cultura

CHARLES BRADLEY, O SENHOR QUE APAIXONOU PAREDES

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Paredes voltou a acordar bem cedo para enfrentar o terceiro dia. As margens do rio encheram em segundos de manhã cedo e assim permaneceram durante a tarde. No Palco Jazz compareceram Pedro Mexia, Carlos Vaz Marques e o grupo Penicos de Prata. No entanto, foi com Peixe, pelas 16h30, que a praia cantou em uníssono. O artista recebeu fortes aplausos dos que se banhavam no rio e dos que apanhavam sol nas margens do mesmo. Relembrando o último ano em que atuou no festival como parte integrante dos Ornatos Violeta, tocou “Chaga”, cuja letra se encontrava na ponta da língua de todos os presentes.

X-Wife foi o primeiro nome a comparecer no palco principal, pelas 18h30. Nunca nesta edição se viu tanto público alojado no recinto àquela hora da tarde. Consecutivamente, os portuenses tocaram êxitos como “Keep On Dancing”, “On The Radio” e “Fireworks”. Após 12 anos longe do palco de Paredes, a banda transbordava energia e o público respondia com dança (quer de pé, quer sentado). “Vamos falar pouco para tocar o maior número possivel de músicas em 40 minutos”, disse. E assim foi até a mais recente e contagiante “Movin Up”.

Pouco depois, o Grupo de Expertos Solynieve chegou ao palco Vodafone FM. Com eles, chegaram também inúmeras pessoas de nacionalidade espanhola que cantavam, entusiasticamente, as músicas escritas na sua língua natal.

No mesmo palco, já sem sol no horizonte, apresentar-se-ia Katie Crutchfield e a sua banda, sob o nome de Waxahatchee. No palco existia como que uma linha que dividia Katie, a guitarrista e a baterista, soltas e dinâmicas, do segundo guitarrista e baixista, quietos e tímidos. O concerto, que destacou o mais recente álbum “Ivy Tripp”, iniciou-se com a animada “Under A Rock” e prolongou-se numa linha subtilmente intimista, apesar da interferência de alguns problemas de som. “Air” e “Coast to Coast” foram as mais reconhecidas na audiência, que acrescentava o bater de palmas à percussão e gritos e aplausos no final de cada interpretação. Katie, que se mostrava agradavelmente surpreendida com entusiasmo da plateia durante o concerto, chegou mesmo a abordar uma fã após o mesmo, que segurara um cartaz em que se escrevia: “Waxahatchee saved my nights”. A demonstração de carinho e, simultaneamente, prova de simplicidade e humildade por parte da intérprete espantou todos aqueles que assistiram ao momento.

Pelas 21h30 já  a banda de Mark Lanegan atuava, banhada de um vermelho intenso proveniente dos holofotes. A voz rouca, mas serena, que tanto embalava como despertava em consenso com guitarras enubriantes, interpretou temas como “Hit The City” e “The Gravedigger’s Song”. No entanto, a interpretação mais aplaudida foi a do tema “Atmosphere”, original de Joy Division, que adquiriu uma textura radicalmente diferente, mas surpreendentemente adequada à noite fria e ao mar sereno de gente que observava o concerto.

Mas a serenidade não tardou a desaparecer. Às 23h15, o teclista de Charles Bradley and His Extraordinaires fez uma louvável introdução ao Senhor da noite, que aparece acompanhado de uma explosão de aplausos. Vêm-se as lágrimas a escorrerem a face expressiva do artista, que logo a seguir à abertura com “Heartaches and Pain” e “Love Bug Blues”, desfaz-se em elogios e agradecimentos ao público português. “Sem vocês não há um eu”, diz emocionado e emocionando a plateia. O palco estava cheio em todos os sentidos: albergava os 8 elementos da banda e enchia-se com a voz poderosíssima de Charles que tanto cantava como discursava sobre temáticas como a igualdade. Todos os instrumentistas dançavam, sorridentes, e o cantor veterano, incansável, dançava também. Após uma pausa para o interlúdio instrumental, Charles regressa com uma vestimenta nova e novas declarações de amor à audiência. Em “Confusion” aproxima-se do público, exibe fantásticos movimentos e uma versatilidade vocal inacreditável. Tudo termina com “Let Love Stand a Chance” e com abraços intensos à fila da frente da plateia. Um concerto que toda a gente deveria ver pelo menos uma vez na vida, não só pela atuação excecional do artista como pela densidade da mensagem transmitida por uma pessoa igualmente excecional.

Seria The War On Drugs a fechar a sequência de concertos. A abertura realizou-se ao som de “Arms Like Boulders” e dos aplausos de entusiasmo da plateia. Uma atuação constituída por faixas bem longas, solos prodigiosos e uma boa dose de animação por parte do público, que saltava de forma sincronizada. “Red Eyes” e “Under The Pressure” foi das mais aclamadas, apesar da energia da plateia parecer escassear ao longo da atuação.

O After Hours contou ainda com Tanlines e Richard Fearless, que animaram o recinto até às 5 da manhã.

Estamos agora na reta final do festival. Paredes despede-se, hoje, com Natalie Prass, Temples, Fuzz, Lykke Li e Ratatat.

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