Cultura

INDIE(LÂNDIA) MUSIC FEST – SEGUNDO DIA

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Acordou-se sem grande pressa; almoçou-se no vizinho, pois então, estamos em tempo de crise, há que ser pelintra; e toca a ir para a piscina, que ficava ligeiramente demasiado longe do recinto. Ainda que os shutles não me parecessem assim tão frequentes quanto isso, compensava esperar um pouco pela aterragem naquele ambiente fantástico, com música cinco estrelas. Nada como dar uns bons mergulhos ao som de Led Zeppelin! Mais – lá nos balneários do complexo desportivo de Parada era possível tomar um banho satisfatoriamente quente (inserir vídeo de eu a banhar-me com um ar satisfeito). Já os quatro chuveiros no bosque, segundo me constou, eram também com água aquecida; isto é, para os dez primeiros campistas da fila!

Com os concertos a começar às 16:01 (impossível cessar de delirar com o “ponteiro” dos minutos) não havia muito tempo para piscinar, de modo que tratei de me fazer à estrada com a devida antecedência, sem esperar pelo autocarro, que mesmo passado mais de meia hora nem vê-lo… Maior erro da minha vida! Raios partam todas as dezenas de pessoas que passaram e ignoraram o meu solene pedido de boleia, deixando-me ali, só, a caminhar junto aos rails! Quem me safou foi um velhadas que me poupou à última parte do caminho. Enquanto fumava o seu estupefaciente – se é o meu olfacto não quis ser excessivamente dramático – lamentou-se: Que chatice, ainda não tinha feito a minha boa acção do dia e lá teve de ser! Achei-o uma pessoa muito simpática, e os meus pés concordaram plenamente.

Esta pressa, porém, não se justificou – ardeu um poste de electricidade, mesmo à entrada do recinto, tendo-se atrasado o primeiro concerto cerca de duas horas. Não, cerca de duas horas e um minuto! Ou seja, algures durante a tarde lá arrancaram com a festa os Baixo Soldado, jovem quarteto surfista daquela onda de musicar poemas escritos no café enquanto se fuma artisticamente um cigarrito e se ouve música psicadélica com um phone no ouvido. E depois… “é Deus quem ajuda”! Seguiram-se os Black Zebra, que, mesmo sendo só dois, guitarra e bateria, lançaram os foguetes todos, tal a potência com que tocavam. Isso e um gajo vestido de banana a fazer um intenso headbang. Não posso deixar de atribuir uma menção honrosa aos The Gypsies, esplêndida multidão de músicos à séria, um (infelizmente) raro caso em que a flauta participa na Rockalhada, tendo ela sido tão eficaz que acabámos todos juntos a dançar um Can Can! Desta vez, em matéria de sósias de artistas conhecidos a cantar, estivemos na companhia do Bono, em tour com os Eletric Reeds. Entre alguns dos covers que fizeram destacou-se uma curta versão do “Whole Lotta Love”, coisa que se recebe sempre de braços abertos. Los Black Jews foram os próximos da lista, senhores de uma oscilação entre o psicadélico e breves passagens em que parece que estamos a viver um Western. Eu gosto de Westerns, tanto que comprei nessa noite um poncho sublime, que me vai permitir sair finalmente à rua com o meu chapéu Mexicano! Em prol das questões do estômago não pude assistir à actuação dos Taipa & The BlackBirds. Jantou-se no vizinho, evidentemente!

Sobremesa? Pão com marmelada! Exactamente, a segunda banda a tocar no Palco #IMF, o principal, foram os Capitães da Areia. Este trio deveras suis generis, entre tocar guitarra numa raquete de ténis, atirar a dita sandes para o público e trepar às armações do palco, deu um excelente espectáculo a bordo da nave Indie! Com o espírito dos Joy Division a pairar (e t-shirts do Unknown Pleasures a patrulhar a área) subiram ao palco os Malcontent. Um batalhão os sucedeu, maior ainda do que o d’Os Ciganos, contando com nove membros e instrumentos de sopro, guitarra (até houve cordas a rebentar), teclado, violoncelo, contra-baixo e bateria. Trata-se dos Brass Wires Oschestra, ilustres senhores que puseram o público a saltar e a aplaudir do início ao fim e fizeram ainda a seguinte curiosa proposta: Deem um beijinho na pessoa que estiver ao vosso lado… ou um apalpão! Eu não podia, que estava a trabalhar. Cautela, agora vêm os Astrodome brindar-nos com um magnífico Stoner. Ora, a gente bem precisava de ir com a cabeça devidamente agitada para Modernos – outra banda satélite de Capitão Fausto. E que concertão do caneco que eles deram! Até cheguei a temer pela minha vida quando vi, ao som da “Casa a Arder”, as grades a avançarem ameaçadoras na minha direcção, e eu, sem seguro nem na vida nem na máquina!… Dei o dia por terminado, logo após marcar uma sessão de psicanálise. “ Volta p’ra mim sexta-feira”…

 

P.S.: Nessa noite tocaram ainda os Les Crazy Coconuts e abriu o palco Fábrica Electrónica, mas por essa altura já arranjara boleia para o Porto e encontrava-me a dormitar no carro ao som dos ABBA, que era o que o rádio tinha para oferecer (e eu secretamente não me incomodei nada).

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