Cultura

RODRIGO LEÃO ESTREIA “RETIRO” NO COLISEU

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No palco do Coliseu estão montados lugares para uma orquestra inteira, mas durante a primeira meia hora o palco pertence apenas a André Barros, um compositor e pianista emergente, que Rodrigo Leão convidou para nos fazer as honras. André, entre agradecimentos, convida para o palco solistas que o acompanham à vez e termina com uma peça a quatro mãos, que faz o público esquecer que ainda se seguiria a atuação principal.

Mas às 21h30, o coro da Gulbenkian dava início a um concerto que se adivinhava grandioso. Porque se Rodrigo Leão enche salas com um piano e uma mão cheia de músicos, não era difícil adivinhar o que faria com uma sala cheia deles, literalmente – são cerca de 100 músicos em palco e há poucas cadeiras vazias na plateia.

O maestro Rui Pinheiro dá a ordem e o Coliseu treme com a percussão, os sopros, as cordas. Na linha da frente, as caras conhecidas de qualquer habitué dos concertos de Rodrigo Leão: Celina da Piedade, no acordeão, e o quarteto de cordas formado por Carlos Tony Gomes, Bruno Silva, Denys Stetsenko e Viviena Tupikova.

Na segunda música percebemos que o palco, afinal, não estava ainda completo. Selma Uamusse entra lentamente e desvia o olhar do público até às roupas vivas, africanas, que arrasta. Antes de ouvirmos a primeira nota entoada por Selma, esperamos inconscientemente uma voz como a de Teresa Salgueiro ou de Ana Vieira. Mas Rodrigo Leão não cede às vontades do passado recente e foca-se antes no seu universo da década de 90. Está no palco para mostrar o orgulho que tem em “Retiro”, marcadamente clássico, e que, diz à imprensa, “carrego há muito no meu pensamento”. Selma é clássica na voz e na língua (canta vários temas em latim) e a orquestra e coro acompanham.

Rodrigo Leão interrompe para manifestar, por palavras, a “honra” que sente em encher o Coliseu do Porto e deixa breves palavras de homenagem e agradecimento a Paulo Cunha e Silva, o vereador da cultura da Câmara Municipal do Porto, que faleceu no passado dia 11 de novembro.

O concerto dura pouco mais de duas horas, mas o público não se cansa e, no fim, as quase três mil pessoas aplaudem de pé com o mesmo entusiasmo que traziam quando se sentaram.

O compositor, e mente arquiteta de todo o espetáculo, anunciou “Retiro” como um trabalho que questiona filosoficamente o sentido da vida e a procura de um lugar no mundo, temas que sempre estiveram presentes nas entrelinhas das suas obras anteriores.

O novo álbum, apresentado ontem ao vivo, é espelho de um novo ciclo da carreira do compositor, mas também da ambição da sua peculiar visão artística. “Retiro” é o sucessor de “A Montanha Mágica”, lançado a 2011, e será apresentado em Lisboa nos próximos dias 20 e 21.

 

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