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Cultura

AS PAIXÕES EM WAGNER

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Que Richard Wagner é um supra-sumo da música Ocidental, não restam dúvidas. Um (O) sinónimo de romantismo germânico, concebeu instrumentos, redesenhou salas de concerto, reavivou e remasterizou a tradição musical antecedente de modo a conseguir compor os sons que concebia. A sua obra é embelezada por um tecido orgânico que o classicismo simplesmente não conseguia tecer.

Se estes factos não são uma novidade, a Casa da Música apresentar-nos um concerto com o nome do compositor já é uma lufada fresca. Ao longo deste ano, onde a programação da casa residiu na Alemanha, ouvimos excertos de “O Crepúsculo dos Deuses” (relembramos que a Sala Suggia não se encontra totalmente equipada para receber óperas), da “Abertura Fausto” e da “Sinfonia Polónia”. Hoje, focamo-nos no Prelúdio da ópera “Tristão e Isolda”.

A primeira parte do espectáculo coube a Emmanuel Nunes e à sua “Ruf”. A fundação Calouste Gulbenkian encomendou-a ao compositor português e teve na volta um exercício de textura. Ao longo dos 38 minutos que a compõem, experimenta-se os mais variados timbres da orquestra com construções electrónicas, tanto originando momentos congénitos como outros menos ortodoxos. O jogo entre a orquestra e a Digitópia Collective, responsável pelos sons processados, revelou-se fresco e interessante, mas o impacto que deixou foi essencialmente comparativo.

A investida ao compositor alemão iniciou-se com Wesendonck Lieder, um conjunto de 5 canções orquestrais tematizadas na ardência romântica – “Todos estes poemas prendem‑se com os prazeres e o tormento do amor passional” lê-no programa da sala. Estas pequenas peças, acompanhadas pela prestação apaixonada da soprano Magdaleba Abba Hofmann, funcionaram como aperitivos concentrados para o que as seguiu.

O Prelúdio de “Tristão e Isolda” é tão consagrado como o seu compositor, desde o acorde belicoso que o inicia até ao seu último suspiro. Ele personifica a fantasia de Wagner, onde a cultura alemã ascende como um totem poderoso e luminoso, acabando por ofuscar o século XIX e nutrir o terreno para certas correntes de pensamento do séc. XX. Tal é o seu poder nacionalista que constatamos com espanto o quão eficaz soa a música nesta sala, neste século. As suaves variações de dinâmica percorrem-na e percorrem-nos. A beleza dos leitmotifs (pequenas melodias que caracterizam as personagens e acompanham toda a obra) culmina em picos simplesmente sublimes. Todo o prelúdio tem uma textura arbórea, encantadora, por vezes escura como a Floresta Negra que ilustra. Foi a peça mais aplaudida do concerto, com uma grande parte da audiência de pé. A história da música diz-nos: “Pudera”.

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