Cultura
ROTEIRO: PORTO E OS SEUS RECANTOS COM HISTÓRIA
Praça Carlos Alberto e a varanda do nº 92
É na Praça Carlos Alberto que se encontra a estátua em homenagem a Humberto Delgado, militar português que corporizou o principal movimento anti-salazarista através de eleições.
A 14 de Maio de 1958, quando no Porto para fazer a sua campanha, Humberto Delgado confrontou-se com uma impressionante recepção: mais de 200 mil pessoas esperavam o “General Sem Medo”. Na sua sede de candidatura, no nº 92 da Praça de Carlos Alberto, sob uma chuva de flores, foi levado em ombros até ao primeiro andar e, quando assomou à varanda, foi-lhe aclamada uma enorme ovação pela multidão. “Que termine o medo! Viva a liberdade!“, disse.
O momento mais caricato foi quando lhe foi perguntado por um jornalista qual a sua postura perante o Presidente do Conselho Oliveira Salazar, ao qual respondeu muito convictamente “Obviamente, demito-o!”. Esta frase incendiou os espíritos das pessoas oprimidas pelo regime salazarista que o apoiaram e o aclamaram durante toda a sua campanha.
O local é desde 1935 conhecido como Luso Caffé, com uma agradável esplanada no seu exterior.
Ponte das Barcas e as Invasões Francesas
A famosa ponte foi projectada por Carlos Amarante e inaugurada a 15 de Agosto de 1806. Era constituída por 33 barcas ligadas por cabos de aço e abria e fechava para dar passagem ao tráfego fluvial. Aquando das cheias, a ponte era desmontada para evitar a sua destruição.
A 29 de Março de 1809, durante a 2ª invasão francesa, depois do Porto ter sido conquistado e saqueado pelas tropas francesas do marechal Soult, os habitantes em fuga, dirigiram-se para a Ponte das Barcas, tentando passar para a margem de Gaia. Perante a sua fragilidade e a quantidade de pessoas que a atravessava, a ponte cedeu e cerca de 4000 pessoas caíram e morreram nas águas do Douro.
No dia 12 de Maio, Soult foi derrotado no Porto pelas tropas anglo-lusas, comandadas pelo Duque de Wellington e foi obrigado a retirar-se para Espanha, atravessando a 18 de Maio a fronteira em Montalegre, acabando assim a segunda invasão francesa.
Reconstruída após a tragédia, a Ponte das Barcas acabou por ser definitivamente substituída pela Ponte Pênsil em 1843, cujos pilares e ruínas da casa da guarda militar ainda permanecem ao lado da Ponte D. Luís.
Na Ribeira, encontra-se a peça de bronze intitulada de “Alminhas da Ribeira”, que representa a tragédia da Ponte das Barcas. É hoje um local de crença e devoção populares.
Perto da Ponte de São João, existe um monumento de homenagem a João Ribeiro Viana, negociante portuense, que conduziu de Gaia para o Porto alguns dos barcos que fizeram as tropas anglo-lusas comandadas pelo Duque de Wellington atravessar a margem do rio. Foram estas as tropas que expulsaram o marechal Soult de Portugal.
Rua do Heroísmo e o Cerco do Porto
Dá-se o nome de Cerco do Porto ao período, que durou mais de um ano, de Julho de 1832 a Agosto de 1833, no qual as tropas liberais de D. Pedro estiveram sitiadas pelas forças realistas fiéis a D. Miguel. À heróica resistência da cidade do Porto e das tropas de D. Pedro se deveu a vitória da causa liberal em Portugal. Entre outros, combateram no Cerco do Porto do lado dos liberais Almeida Garrett e Alexandre Herculano.
Efectivamente, no dia 29 de Setembro de 1832, sob nevoeiro cerrado, os sitiantes avançaram pelos lados de Campanhã, chegando a entrar na Rua do Prado, onde foram recebidos pelos resistentes, travando-se um combate tão violento que originou o nome actual de Rua do Heroísmo.
Actualmente, é nessa mesma rua que se encontra o Museu Militar do Porto, edifício que outrora funcionava como delegação da Polícia Internacional e de Defesa do Estado, mais conhecida como PIDE, no Porto, desde a década de 40 até 1974.