Cultura
BEACH HOUSE: LUZ EM CÂMARA LENTA
Quem se junta para ouvir Beach House não vem pelas suas canções. Não é assim tão simples. Há uma melancolia permeável que nos retém. Há um intuito terapêutico em quem os procura.
Ontem (24), com o final do espectáculo, a audiência que compunha o Teatro Sá da Bandeira (em lotação esgotada), antes de histérica, estava feliz. Tranquilamente feliz. Isto é a música dos Beach House.
Este duo formou-se em 2004, mas foi com Teen Dream (2010) que viu, efetivamente, as suas melodias em sonhos adolescentes. A comunidade BH foi crescendo, sendo Bloom e posteriores álbuns nada mais que confirmações do seu impacto e da sua arte. Eles tocam um dream pop embebido por completo numa água lânguida, condensada em teor emocional. Mas o seu som não é fatalista, pelo contrário. É epicurista, leve.
Ouvimo-los na tour de Depression Cherry, penúltimo álbum da banda, depois do lançamento surpresa de Thank Your Lucky Stars, e foi esse o registo mais escutado no concerto – retemos Space Song e Beyond Love, deslumbrantes. Toda a discografia ganha uma cor diferente ao vivo, com uma sensação rítmica preponderante. Nas peças antigas, como Bloom e Walk in the Park, isso era especialmente notório. Projectam-se filmagens em panos do palco, que se vão fragmentar no recinto. Caem sobre os fãs como pequenos flocos amenos: por mais intenso que o som esteja, mantém-se o mesmo ambiente de liturgia que os prende em casa.
Passava-se rapidamente entre músicas, mas não parecia haver pressa. No último concerto deste ciclo de cansaço, a vocalista estava amplamente receptiva, embelezada pelos holofotes e por quem a observa. “We love you”, diz, enternecida. O público recebe e compreende. A plateia está aterrada. As paredes do “teatro antigo e misterioso” reflectem sombras sonhadoras, reflectem o conforto do público. Ouve-se o último arpejo do sintetizador: o concerto dos Beach House não poderia ter terminado de outra forma.