Crítica
CRÍTICA: “JUNUN”, DE JONNY GREENWOOD
Ao longo da história, o rock e o pop ocidentais têm o hábito de emergir na música oriental. Desde Beatles a Fleet Foxes, ou até mesmo Britney Spears, este tipo de influências no ocidente acaba por não ser tão inesperado como inicialmente se podia julgar. Este ano, junta-se a essa lista de artistas Jonny Greenwood, conhecido pelo seu trabalho como guitarrista na banda Radiohead.
A inspiração para Junun começou quando Greenwood, numa viagem pela Índia, descobriu o multi–instrumentalista israelita Shye Ben Tzur, radicado na Índia desde a década de 90, que havia desenvolvido um estilo único resultante da mistura da cultura indiana com a sua própria. Alguns meses após a primeira viagem, Greenwood voltou, desta vez com o realizador Paul Thomas Anderson (Haverá Sangue) e, juntamente com o grupo indiano Rajahstan Express e o próprio Shya Ben Tzur, filmaram o documentário Junun, cuja banda sonora foi lançada agora em álbum. Trata-se de uma banda sonora de um filme, que no fundo retrata as gravações para este disco.
O LP possui uma interessante combinação de instrumentos: Greenwood toca guitarra rítmica, há um Odes Martenot, o seu órgão de eleição, e um computador, onde se cria as batidas eletrónicas. Bem Tzur alterna entre guitarra e flauta. Os quinze músicos de Rajahstan Express passam das vozes de apoio, aos tambores, trompetes, tamburas, tubas, dholaks. A produção é levada a cabo por Nigel Goodrich, responsável por todos os álbuns de Radiohead desde OK Computer. Não existem membros mais importantes, todos são parte integrante do produto final, como se constata pela capa.
A primeira música, de título Junun, que significa ”paixão” em hindu, comporta-se como uma apresentação de todas as partes. Começa com uma forte batida eletrónica, lembrando-nos de Kid A. Seguem-se as vozes e os trompetes, para a batida desaparecer e dar lugar aos tambores, resultando, como acontece ao longo do álbum, numa música que nos faz querer levantar e dançar, mesmo que não saibamos muito bem como o fazer.
As letras variam entre hindu e arábico, que apesar de serem línguas que a maioria da população ocidental não compreende, não se privam de transmitir toda a sua sentimentalidade. É o caso de Hu, cujas guitarras e percussões se ligam às vozes de forma tão graciosa e harmónica, que o ouvinte se sente ligado à emoção por elas transmitida, percebendo-as ou não.
A música em que a influência de Greenwood é mais palpável é Allah Elohim, a única das treze faixas cujo instrumento principal é a guitarra. Ironicamente, a única música com um titulo em inglês, There Are Birds In The Echo Chamber, não passa de um interlúdio, com sons de pássaros.
Junun deve ser abordado com a vontade de embarcar novas ideias. Jonny Greenwood é claramente o elemento que chama mais atenção para este álbum. Contudo, fãs dos seus trabalhos prévios poderão não encontrar o protagonismo que desejam dele. Terão de abrir a mente a outros elementos e apreciar toda a beleza de tal mistura de culturas. Este álbum deve ser visto como um fenómeno de músicos a viver, a trabalhar e a aprender uns com os outros.