Cultura
ABAIXO O AMOR: VIDAS ÍNTIMAS

“Minimal como uma curva de art déco”, criticou assim John Lahr, crítico estadunidense no The New Yorker, aquando da passagem da peça, com o subtítulo Uma Comédia Íntima, pelos lares americanos.
A intriga e a sincronia nos momentos de paixão e romance soam a Desprezo, filme do cineasta francês Jean-Luc Godard. Porém, ao contrário dos filmes de Godard, que se superam pelas vidas encantadas e revoltadas por mudança social e política, em Vidas Íntimas o altruísmo nunca chega a existir.
Ainda nas referências cinematográficas, à semelhança de Closer, do diretor de cinema Mike Nichols, as personagens da peça – nem de longe nem de perto – se conseguem manter serenas quando estão perto. Porém, Elyot, interpretado por Rúben Gomes, afirma que “O amor é sensato… Sem agitações.” Mas a maior agitação estava ainda para chegar, ao lado de quatro cocktails, poisados no luar francês.
Esta peça, que coloca os espetadores a entrar na intimidade alheia – quase como insetos num quarto escuro numa noite quente – revela o comum burguês francês do século passado, perante o abismo. Precipício este tanto volátil quanto revolto.
Por mais que Elyot cantasse ao piano a “Someday I’ll find you” – peça musical também escrita por Noel – nada mudou o reencontro de um amor forçoso que o casal Elyot e Amanda desejavam que fosse. Até porque: quem é que ama alguém que nos ecoa a paradigma do aborrecimento? Ninguém Elyot, ninguém.
Artigo da autoria de Raquel Batista
