Cultura
CRÍTICA: ACASO, O ARGONAUTA
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«As nuvens dissipam-se sobre os recifes; e os primeiros/ náufragos aproximam-se da costa, trazendo notícias/ do abismo com a voz entrecortada por um soluço/ de anémonas azuis.» A publicação de Navegação de Acaso coincide com atribuição do Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana ao seu autor, o poeta Nuno Júdice. Neste que é seu último opúsculo de poesias, o poeta fez-se ao mar sem outro propósito que o poético; nenhum porto para onde zarpar, nenhuma rota previamente traçada; e isso ao ponto de não sabermos ao certo se cada poema é um atracar temático ou apenas uma enseada onde o poeta, no reflexo do mar, se contempla, confundindo-se, poesia. Só embarcando com ele, de poema em poema à deriva, perceberemos que aquele que está ao leme não é tanto o argonauta da Trácia quanto sua sublimação, Acaso.
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