Crítica
JUP Baú: George Steinmetz lembra que somos Gigantes

Depois de um primeiro JUP Baú que se debruçou sobre uma pintura sem tempo, esta semana atiramo-nos para o universo da fotografia.
A imagem estática de um segundo do real, faz-nos eternizar o presente e permite-nos ver no futuro aquilo que, agora, é passado – mas, na altura, foi o presente. Apesar da fotografia se cingir a um retângulo do presente, nem por isso deixa de nos fazer imaginar o que aconteceu antes e depois do clique, e de pôr em hipótese tudo o que ficou cortado do plano.
Enquanto correntes artísticas (literárias e teatrais, por exemplo), o Naturalismo e o Realismo foram ferozmente criticados pelo seu impedimento para imaginar. Mas a fotografia – ao contrário da artes plásticas que se adaptaram e “vanguardizaram” – foi, e sempre será, um hino ao real, por mais que o real pareça estranho ou até mentira.
A National Geographic é palco e casa de algumas das melhores fotografias e fotógrafos de todos os tempos.
Em fevereiro de 2005, a edição turca divulgou George Steinmetz, que captou esta imagem enganadora no deserto da Turquia. Legendou-a de “Gigantes”, embora “Camelos e Sombras” tenha sido o nome que correu o mundo. Num primeiro olhar, parece apenas um desorganizado grupo de camelos negros a percorrer o deserto. Mas, num rasgo de atenção, percebemos que são as suas sombras – e eles, camuflados na areia, quase não se veem.

Fotografia: George Steinmetz (National Geographic Turquia, 2005)
Num ano como este, é importante sublinhar a nossa pequenez. Pequenez essa que, aos olhos de quem vê ao longe ou de outro ângulo, é uma presença megalómana. Cada um assume a sua importância, e se alguma sombra desaparecesse a fotografia seria outra. Cada camelo faz parte de um todo – e nós, tantas vezes camelos – também somos um todo, cada um com o seu ritmo.
George Steinmetz é um fotografo excecional que já viu e eternizou aquilo que já não há nem existe mais. Mas também captou o intemporal, aqui representado no percurso, no coletivo, e na resiliência. Olhando uma primeira vez, vemos camelos negros. Olhando uma segunda vez, vemos sombras de camelos minúsculos. Olhando uma terceira vez, não vemos, mas pensamos: será que os camelos também veem a sua sombra, ou só veem a sombra dos que o rodeiam?
– –
O JUP Baú é uma rúbrica que contraria a atualidade jornalística e lembra a arte e os artistas que temos de relembrar para não esquecer.
