Cultura
O CÃO QUE CORRE ATRÁS DE MIM (E O AVÔ ELÍSIO À JANELA)
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“Mãe, ele é maluco!”, “Vais-te magoar Caco!”, “O que é que ele fez à pedra?”, “Que luz tãoooo comprida!”, “Mãe os pés dele estão pintados, eu estou a ver que estão pintados!” – vários foram os comentários que se fizeram ouvir pelas vozes preocupadas e curiosas das crianças, que do alto das suas almofadas coloridas, e sob o olhar atento dos pais, observaram este novo espectáculo. Filipe Caldeira, ou Caco – “como me apresento àqueles que poderiam ser meus colegas de rua” – revela-nos o seu mundo de criança. A sinestesia das recordações, as peripécias, as sensações, as memórias dos avós e da escola, e a derradeira história do cão pantera e como aprendeu a andar de bicicleta sem rodinhas.
Um cenário simplista, algumas tábuas e estruturas geométricas, luz, um projector de slides e muita imaginação são os ingredientes que convidam a sonhar. “ A minha rua cheira a maresia e tu a que cheiras?”, “Cheiras a camomila!”. Uma tábua macia, uma áspera, uma relvada, outras tantas para explorar. “Quem se quer descalçar?”. Um milésimo de segundo depois: um braço no ar. Um compasso de espera: dois pés pequeninos.
Do projector de slides aparecem recordações em forma de fotografia. Como magia, partes são evidenciadas criando a sensação de terem sido retiradas à original, transformando-se noutras. Além disto, dos jogos de sombras de um acrílico com luz surge o avô, e os seus conselhos, e o cão pantera em plena corrida e latido, enquanto do cenário se constrói uma bicicleta. Um espectáculo para as crianças, mas também para adultos, em que assuntos importantes e sérios são tratados a brincar. Poucos são aqueles que saem sem um brilhozinho nos olhos e uma sensação de felicidade, qualquer que seja a sua idade.
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