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JUP Retrospetiva

JUP Retrospetiva 2020: Obituário e Efemérides

Morte de Maria Velho da Costa

2020 ficou marcado pela morte da escritora e argumentista emblemática Maria Velho da Costa, aos 81 anos.

Nascida a 26 de junho de 1938, Velho da Costa publicou várias obras de teor feminista e político como “Desescritas (1973) e “Casas Pardas (1977). Contudo, a sua fama começou quando, em 1972, se juntou a Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno na escrita da obra “Novas Cartas Portuguesas” – que foi, possivelmente, uma das obras portuguesas mais controversas, desafiando os estereótipos e as linhas confinadas daquilo que se considerava que uma mulher deveria ser, na época do Estado Novo.

Maria Velho da Costa morreu com um total de 19 obras publicadas, três colaborações com cineastas e duas condecorações, em 2011 recebeu o Grande-Oficial da Ordem da Liberdade e, em 2013, o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores.

Fotografia: Rui Gaudência

Morte de Artur do Cruzeiro Seixas

Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas faleceu no dia 8 de novembro deste ano, pouco menos do que um mês antes do dia em que completaria 100 anos de vida.

Nascido em 1920, Cruzeiro Seixas foi um artista em todos os sentidos. Foi o surrealista português (fundador do movimento), o “homem que pinta” (porque pintor não o define), o homossexual assumido (que manteve uma forte relação com Mário Cesariny), o poeta, o artista plástico. Artur encarava todas as suas criações artísticas como “afirmações da liberdade” e, citando-o, suicidar-se-ia se lhe tirassem a beleza.

Nas palavras do próprio, numa entrevista à Lusa em 2011: “reuni uma das melhores coleções de arte em Portugal. E fiz uns disparates”. Assim, entre palavras, conseguimos testemunhar o quão especial foi Cruzeiro Seixas e, agora, resta-nos ficar com a sua obra e com a imagem de um ser humilde para eternamente recordar.

Imagem: Hugo Amaral

Morte de Eduardo Lourenço

Camões choraria. “Assim deixaste quem não deixara nunca de querer-te!”. Eduardo Lourenço, o pai de mil homens, de todos nós, fez-se livre no primeiro dia do último mês, neste ano tão escuro. Por momentos, parece o vírus secundário ou insignificante, e outro valor mais alto se alevanta – perdemos um génio. Professor, ensaísta, filósofo – rótulos incompetentes. Pensador será o mais aproximado desta figura que só a sua elevação faz notar o seu contorno.

Em Almeida, a 23 de maio de 1923 (praticamente há um século), nascia Eduardo Lourenço. Forma-se na Universidade de Coimbra, em 1946, e três anos mais tarde publica o seu primeiro livro. Na sua vida, desempenhou atividades diversas em França, Itália, Brasil e Alemanha. Foi professor jubilado e administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, e, mais recentemente, designado Conselheiro de Estado.

“O Labirinto da Saudade” e “Portugal como Destino” são exemplos de obras onde podemos conversar com este homem, premiadíssimo (Prémio Camões, Prémio Pessoa, entre muitos outros, inclusive internacionais) e condecorado em Portugal e em França.

O seu esplendor será eterno e o luto nacional também. “Nós somos tempo” – desta forma nos diagnosticou. Infelizmente, o relógio-despertador parou, um cessar de tic-tac que não tocará mais para vir acordar as nossas mentes adormecidas.

Fotografia: Vitorino Coragem

Centenário de Amália Rodrigues

No dia 23 de julho de 1920 nasceu Amália Rodrigues: a cantora, a atriz, mas – e principalmente – a fadista. A que dá cara à voz mais portuguesa de Portugal. Decerto que há de ter passado por “uma estranha forma de vida”, a viver “nesta ansiedade” com um coração “perdido entre a gente”. No entanto, foi o seu “coração independente” e voz divina que a tornou, a si e à sua obra, imortal.

As celebrações dos cem anos de Amália pelo país foram inúmeras, mas, mesmo sem as mesmas, seria impossível esquecer o legado da fadista de 170 álbuns editados com o seu nome em mais de 30 países e 30 milhões de cópias vendidas pelo mundo fora.

Amália é para o fado, o que o fado é para Portugal: um pilar. A história deste Património Imaterial da Humanidade vive com as contribuições da sua obra, pontuada pelo encontro da poesia clássica e erudita com este género musical.

Um século de Amália Rodrigues, como símbolo da língua e da cultura portuguesa e como uma influência poderosa de gerações e gerações de músicos portugueses.

Fonte: Jornal de Notícias

Centenário de Bernardo Santareno

Bernardo Santareno é considerado por muitos o maior dramaturgo português do século XX – e completaria 100 anos este ano, a 19 de novembro. Natural de Santarém, Santereno (pseudónimo literário de António Martinho do Rosário) é, inegavelmente, uma figura de primeiro plano do teatro português por ser autor de várias peças emblemáticas levadas à cena, em diversos palcos do país, desde a década de 60.

Cicatrizado pela sua escrita essencialmente de denúncia, o autor agarrava na realidade para abanar a consciência social. Assim sendo, basta atentar o tempo em que viveu para, facilmente, deduzir que foi perseguido pelo regime salazarista, e teve variadíssimos textos proibidos. Mas os artistas não se regem pelo gosto dos órgãos de poder. Regem-se pela liberdade. “Português, escritor, 45 anos de idade” foi o primeiro texto representado depois da queda da ditadura, no Teatro Maria Matos, em Lisboa.

Agora, 100 anos depois do seu nascimento e 46 anos depois da revolução, parece cada vez mais vital recuar aos textos de Santereno. Faça-se “O Crime da Aldeia Velha” (1959), faça-se “O Inferno” (1967), faça-se “O Judeu” (1966). Faça-se, por favor, que o homem merece e nós precisamos.

Fonte: Fundação Calouste Gulbenkian

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