Desporto

LIVROS E MEDALHAS. QUEM CONSEGUE?

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Foi com 4 anos que Ricardo Santos, de agora 23, começou a acompanhar o irmão aos treinos de Ginástica de Trampolins, e foi assim que o bichinho pela modalidade nasceu. Hoje também ele é atleta no Ginásio Clube de Santo Tirso, e os saltos que dá já o catapultaram para competições internacionais. Fez a primeira prova para competir pela seleção nacional em 2006 e foi a partir dessa altura que se tornou real “o sonho de levar os trampolins a sério”. Sonho esse sempre apoiado pela família que “por vezes teve de fazer sacrifícios” em prol do mesmo. Há dois anos, entrou no curso de Ciências da Comunicação na Universidade do Porto, mas a estadia na faculdade foi curta. O facto de treinar várias horas por dia, todos os dias, acabava por lhe retirar tempo para estudar mas “não terá sido essa uma consequência direta, já que há muitos casos de sucesso escolar e sucesso desportivo.” Foi a fase de preparação para um Europeu e um Mundial que o impossibilitou de conciliar treinos e estudos. O facto de treinar e estudar em cidades diferentes e de estar condicionado pelos horários dos transportes faziam com que não treinasse “o que precisava” e levou-o a tomar uma decisão. Focar-se apenas no desporto. Ainda assim, não coloca de parte a ideia de um dia voltar às salas de aula: “É algo que ambiciono para me poder sentir realizado e para poder ter uma vida estável no futuro.” Di-lo pela vontade de ter uma formação académica superior e pela noção de que “em Portugal, viver dos trampolins é impossível”. Essa impossibilidade fá-lo ter em cima da mesa a hipótese de se mudar para outro país que lhe dê a hipótese de fazer carreira no desporto, como a Inglaterra ou os Estados Unidos, em que antigos atletas passam a treinadores ou integram órgãos federativos. Para já, e enquanto pode, o desporto é a prioridade.

Um dos casos de sucesso escolar e sucesso desportivo de que fala o Ricardo pode ser o de Marta Hurst. Da mesma idade que o ginasta, a jogadora e treinadora de voleibol é licenciada em Ciências do Desporto e quase mestre em Treino de Alto Rendimento Desportivo, pela Faculdade de Desporto da UP. Enquanto isso, carrega consigo várias medalhas de ouro ganhas em competições nacionais e internacionais. O percurso de Marta foi diferente do de Ricardo quer pela idade com que se estreou na modalidade, quer pelo número de clubes em que jogou, ou pelo contacto anterior com outros estímulos desportivos. A inexistência de competições para a formação de futebol feminino, que praticava em criança, tornou-se “desmotivante”. O desânimo no futebol e a vontade dos pais em que praticasse desporto fizeram com que, aos 13 anos, Marta pusesse de parte as chuteiras e entrasse para a equipa de Voleibol da escola, o Colégio do Rosário, no Porto. Nessa altura, desconhecia por completo a modalidade e só sabia da existência da mesma pelas aulas de Educação Física. Foi precisamente o professor da disciplina – antigo jogador – que mais pesou na decisão, ao dizer-lhe que a altura elevada da Marta podia ser uma mais-valia na prática. Mais tarde passou pelo Clube Académico da Trofa, pelo Grupo Desportivo e Cultural de Gueifães, pelo Rosário Vólei, e pelo Porto Vólei (clube atual). Entrou para a Selecção Nacional depois ter participado nos treinos de observação que foram feitos para as atletas da sua geração, e desde então tem corrido o Mundo em competições e estágios internacionais. No meio do rodopio desportivo, afirma que a prioridade é a formação académica, ainda que os estudos tenham ficado mais vezes condicionados pelo cansaço proveniente do desporto, do que o contrário. “Lembro-me perfeitamente de estar em estágio [desportivo] e saber que tinha os exames de 11º, e de ter notas horríveis porque era impossível estudar e treinar duas vezes por dia”, contou à Praça. Agora, consegue criar um “equilíbrio saudável”, dedicando-se ao que é mais importante em determinadas alturas. A organização rigorosa e atempada assim como o forte suporte familiar fazem com que conciliar os dois campos e ter óptimos resultados em ambos fique menos difícil. Marta trabalha todos os dias para ser jogadora profissional, é apaixonada pelos treinos – quer esteja do lado de dentro ou de fora da área de jogo – e não se arrepende de nada do seu percurso. As falhas nos jantares de amigos, nas saídas aos fins-de-semana e noutros momentos lúdicos, a que a dedicação ao volei exige, trazem um sabor agridoce à vida de Marta. Se por um lado não tem a oportunidade de reviver memórias da viagem ou do baile de finalistas do secundário, as memórias que criou em vez dessas preenchem todas as possíveis lacunas. Estava a fazer o que mais gosta contra “seleções de topo” em países estrageiros e ainda lhe chamavam campeã.

Como Ricardo e ao contrário de Marta, José Barbosa é homem de um clube só. Começou a jogar com 6 anos na Associação Atlética de Águas Santas (Maia) e, agora com 18, continua no clube. Tal como o ginasta de trampolins, Zé foi um pouco por “arrasto”, quando um primo o convenceu a ir experimentar os treinos. Gostou do ambiente, dos treinadores, e sentiu apoio por parte do clube enquanto instituição. Assim foi, começou a ir treinar regularmente. A primeira convocatória para a seleção foi há cerca de quatro/cinco anos, e surgiu no seguimento de um trabalho de seleções regionais que “captava os melhores de cada distrito para fazerem jogos entre si, facilitando o trabalho dos seleccionadores.” Os «podes vir a ser um grande jogador» iam-se tornando cada vez mais comuns a cada golo que o Zé marcava. As expectativas dos outros tornaram-se a maior ambição dele, e fez com que os estudos ficassem para segundo plano, contra a vontade dos pais, ainda que o apoio paternal em relação ao andebol nunca tenha faltado. O estudante de Ciências e Tecnologias do 12º ano confessa que o facto de se ter mudado para um colégio particular no último ano do secundário “facilitou imenso” a despreocupação com a escola. Ainda assim, ingressar na faculdade um dia mais tarde não é carta fora do baralho: “Gostava de ter um suporte académico quando o andebol acabar.” Claro é que o desejo é que o andebol dure o mais tempo possível, porque a paixão pela modalidade durará, com certeza.

Da mesma paixão partilha Patrícia Resende. Desde pequena que ia ver os jogos de andebol do pai, Carlos Resende, e qual não foi a surpresa quando, aos oito anos, ela mesma quis seguir essas pisadas. Garante que não foi uma escolha pressionada pelo jogador da casa e que o pai até lhe tinha sugerido o basquetebol, mas Patrícia quis ir experimentar um treino de andebol, e assim foi. Desde então, jogou em dois clubes federados: no Clube de Andebol de Leça (CALE) – dos oito aos 15, em Escalão de Minis -, e no Colégio de Gaia – dos 15 até ao presente, em Escalão de Juvenis, Juniores e Seniores. Relembra a primeira convocatória para a selecção nacional como “importante para o crescimento como jogadora”, não só pelo desafio em si, mas também pela altura em que surgiu, uma fase de mudança de clube em que se estava a afirmar como atleta e a moldar a auto-estima. Em 2014, jogou na Macedónia, pela selecção (sub-17), e agora, pelos sub-19, trabalha para representar Portugal no Mundial novamente. Sempre tentou conciliar o desporto com a escola, e essa relação melhorou durante o secundário, quando teve a oportunidade de estudar e jogar no mesmo local (Colégio de Gaia), o que ajudou imenso à organização pessoal da jovem jogadora de 18 anos. No entanto, os estudos estão em primeiro lugar. Entrou na Faculdade de Arquitetura da UP com média de 20 valores. O facto ter frequentado um curso técnico-profissional ligado à área que gostava “ajudou bastante”, porque as disciplinas a cativavam e isso tornava tudo mais fácil. “Mas com bastante dedicação, empenho e organização!”, garante.

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